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Enquadrando o ministério

A primeira reunião ministerial do novo governo, com o presidente Lula (PT) recebendo os 37 comandantes das pastas de sua administração, terá um foco claro - buscar unidade no discurso. Resumindo, haverá enquadramento da parte do titular do Planalto. Há problemas de comunicação, mas não só. Visões distintas dentro da frente ampla começam a vir à tona.

Abaixo, alguns casos críticos ocorridos nessa semana inicial da atual administração.

. Ao tomar posse, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, falou em uma “antirreforma” no setor, para reverter medidas adotadas nos últimos anos. Ele foi imediatamente desautorizado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, que afirmaram não haver nenhuma discussão em curso sobre a questão. Saia justa.

. Também na cerimônia de posse, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, defendeu uma nova legislação trabalhista. Ele é conhecido crítico da reforma aprovada pelo governo Temer. Por mais que Lula, durante a campanha, tenha sinalizado ser favorável a alterações nas atuais regras, o assunto não está em pauta no momento.

. O recuo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que defendia o fim da desoneração dos combustíveis e chegou a solicitar ao ex-titular da Economia, Paulo Guedes, para não prorrogar a medida. Haddad foi derrotado pela chamada “ala política” do governo, deixando claro que terá limites claros em sua gestão.

. O desentendimento público entre os ministros da Justiça, Flávio Dino, e o da Defesa, José Múcio Monteiro, acerca da legalidade dos atos de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em frente a quartéis. Na verdade, trata-se de questão menor, pois os protestos estão minguando e, além disso, os dois ministros têm mantido excelente diálogo em torno de outros temas, chegando a se falar diariamente.

. Por fim, há o constrangimento com a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, suspeita de ligações com um miliciano. Deputada mais votada no Rio de Janeiro, seu nome foi bancado pelo presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar, e pelo senador Davi Alcolumbre. O eventual afastamento da ministra, caso ocorra, não surpreenderá.

. A situação é clara. Em seu terceiro mandato presidencial, Lula será centralizador como nunca. Não haverá espaço para posicionamentos divergentes em sua equipe. Não existe a figura do “ministro indemissível”.

André Pereira César
Cientista Político

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