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Em busca do vice ideal

A partir da redemocratização, os vice-presidentes adquiriram um maior protagonismo na cena brasileira. De José Sarney ao general Hamilton Mourão, esses atores políticos se destacaram por seus estilos e ações. Dada essa realidade, os principais pré-candidatos ao Planalto já se movimentam abertamente em busca de seus companheiros de chapa.

Um rápido olhar na história. Sarney era o número dois na chapa encabeçada por Tancredo Neves, que nem chegou a assumir. Em seguida, Itamar Franco substituiu Collor de Mello após o impeachment deste último, e criou as bases para o Plano Real. Marco Maciel, o vice de Fernando Henrique Cardoso, talvez seja o mais discreto dos nomes aqui citados, ficando sempre à sombra do titular.

Na sequência, José Alencar teve a função de quebrar os receios do eleitorado mais conservador em relação ao presidente Lula, no que obteve alusivo sucesso. Já Michel Temer, vice de Dilma Rousseff, teve uma relação conturbada com a petista, que culminou no afastamento da última. Por fim, o general Mourão vive um processo de morde e assopra com o presidente Jair Bolsonaro, e já foi descartado para 2022.

A movimentação dos postulantes ao Planalto é aberta. Bolsonaro, agora no PL, busca alguém discreto e que não tenha pretensões de ocupar seu lugar. Assim, hoje fala-se no ministro da Defesa, general Braga Netto, para o posto. Há muita pressão, porém - os evangélicos, em especial, querem a vice-presidência e já atuam para atingir esse objetivo.

Favorito por ora segundo as pesquisas, o ex-presidente Lula (PT) sabe que precisa repetir o jogo de seus dois mandatos. Um novo José Alencar está no foco, mas quem seria? O filho do ex-vice-presidente, Josué Alencar, chegou a ser sondado, mas recusou a proposta. A hipótese de composição com o ex-governador Geraldo Alckmin, ainda no PSDB, pode novamente ajudar a quebrar as resistências de parte do eleitor, mas a materialização desse quadro ainda parece pouco provável. Assim, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), aparece como uma opção - lembrando, porém, que haveria aí a “sombra” do presidente do PSD, Gilberto Kassab, com seu conhecido (e legítimo) apetite pelo poder.

Por fim, registra-se uma aproximação inicial entre o ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) e o governador paulista João Dória, vencedor das tumultuadas prévias do PSDB. Há muito a ser negociado ainda, mas uma chapa Moro/Dória não seria surpreendente. Além disso, ambos poderiam buscar o apoio de outras legendas como o MDB e o União Brasil, fruto da junção do DEM com o PSL. A direita e a centro-direita teriam uma candidatura para chamar de sua.

Enfim, muito há a ser encaminhado e as negociações estão ocorrendo em todas as frentes. Sabe-se que os próximos anos serão ainda mais difíceis, com a economia em crise e a dramática questão social, sem falar na ameaça da pandemia. O próximo vice-presidente será peça chave no governo que assumirá em 2023.

André Pereira César
Cientista Político

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