Mais do que confirmar a liderança do ex-presidente Lula (PT) na disputa sucessória, a recém-divulgada pesquisa do DataFolha reforça a percepção de que o pleito poderá ser definido já no primeiro turno. A redução do número de candidaturas ajuda a explicar o quadro, mas não só.
Aos números. De acordo com o levantamento, realizado nos dias 25 e 26 de maio, o petista teria 48% dos votos, contra 27% do presidente Jair Bolsonaro (PL). Em um distante terceiro lugar aparece o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), com 7% das citações. Já a senadora Simone Tebet (MDB), o nome que restou da chamada “terceira via”, tem apenas 2%.
Em votos válidos, Lula tem 54%, o que liquidaria a fatura no primeiro escrutínio, no início de outubro. O titular do Planalto, por sua vez, fica com 30% do total. Importante ressaltar que, desde que a reeleição passou a valer no Brasil, nenhum presidente que tentou a recondução ao posto foi derrotado. Bolsonaro seria o primeiro.
Para o atual mandatário, os índices de rejeição são dramáticos. Nada menos que 54% não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro, contra 33% de Lula. Mais do que incômoda, trata-se de uma situação que necessariamente obriga Bolsonaro e seus aliados a revisarem imediatamente as estratégias de campanha.
Não por acaso, o atual presidente não realizou a já tradicional live de quinta-feira. Sinal de que ele sentiu os números, avaliam interlocutores. O exorbitante custo de vida, em decorrência da galopante inflação, o desemprego elevado e o desempenho pífio do governo em diferentes áreas começam a cobrar seu preço.
A rigor, trata-se da maior diferença entre os dois principais postulantes. Além disso, fica cada vez mais claro que o eleitor comprou a ideia da polarização e, desse modo, não enxerga uma alternativa politicamente viável.
A terceira via, assim, não ganha tração, mesmo com o suporte declarado de boa parte do PIB. A pré-candidatura da senadora emedebista, a exemplo do ocorrido com outros nomes que competiam na mesma faixa (Moro, Dória, Leite, Mandetta, Huck, Pacheco, para citar alguns), tende a ser abandonada por seus apoiadores. Questão de tempo.
Por ora, resta no jogo Ciro Gomes, mas sem empolgar. O neopedetista poderá sair menor do que entrou na disputa. A pressão para que ele abandone o pleito e apoie Lula será cada vez mais intensa.
Como se vê, podemos estar assistindo a um segundo turno antecipado. A polarização está levando parcela significativa do eleitorado a buscar, de saída, o chamado voto útil. A disputa sucessória hoje caminha para um desfecho rápido.
André Pereira César
Cientista Político
*Tema da live do dia 26 de maio de 2022, disponível no nosso canal no YouTube