Eleições 2022: sobre a chapa Tebet/Gabrilli - Política - Hold

Eleições 2022: sobre a chapa Tebet/Gabrilli

Representante da chamada “terceira via” na disputa sucessória de 2022, a senadora Simone Tebet (MDB/MS) encontrou na colega de Casa, Mara Gabrilli (PSDB/SP), a parceira ideal para uma composição que busca romper a polarização no pleito. Apesar dos atributos políticos das duas, não será tarefa fácil.
 
Os perfis de ambas são de certo modo complementares. Filha de Ramez Tebet, figura conciliadora que presidiu o Senado Federal e era carinhosamente chamado de “rábula do Pantanal”, a emedebista tenta seguir os passos do pai. Ela é advogada e professora. Antes do Senado, foi deputada estadual, prefeita de Três Lagoas e vice-governadora do Mato Grosso do Sul. No entanto, e apesar da extensa carreira política, só veio ganhar projeção nacional quando se lançou candidata à presidência do Senado Federal em 2019, em contraponto à candidatura de seu colega de partido, Renan Calheiros (MDB/AL). Mesmo não tendo sido eleita, ganhou força dentro partido e foi indicada para presidir a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Casa. Durante a CPI da Covid, teve destacado papel. Como importante voz em defesa das mulheres no Parlamento, foi eleita a primeira presidente da bancada feminina no Senado Federal.
 
Já a tucana é psicóloga, filha de empresário, que entrou na política após sofrer grave acidente que mudou sua vida. Com movimentos limitados, ela faz da pessoa com deficiência sua principal pauta. Com sucesso, diga-se. Gabrilli, inclusive, representa o país no Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, tornando-se a primeira brasileira a ocupar o cargo. Antes do Senado, foi vereadora do município de São Paulo, titular da Secretaria de Mobilidade Reduzida da prefeitura de São Paulo e deputada federal.
 
Os obstáculos no caminho da chapa (que, além do MDB e do PSDB, inclui o Cidadania) são muitos, a começar do desempenho pífio de Tebet nas pesquisas. Segundo o mais recente levantamento da Genial/Quaest divulgado na quarta-feira, 3 de agosto, ela aparece com 2% das intenções de voto - índice que repete desde o início da pré-campanha, semanas atrás. A falta de tração pode levar aliados a apoiar outras candidaturas. Mesmo o mercado, que vê com simpatia o projeto, pode buscar portos mais seguros. Por conta dessa falta de desempenho, deverá enfrentar outra importante dificuldade: a falta de palanques nos estados. Numa campanha tão aguerrida, a ausência desses espaços representa uma adversidade tamanha que poderá custar a eleição da chapa.
 
Aqui falamos em especial do MDB, que segue dividido como sempre. Lideranças das regiões Norte e Nordeste trabalham abertamente em favor do ex-presidente Lula (PT), enquanto no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste há um viés favorável ao presidente Jair Bolsonaro (PL). O risco de cristianização da candidatura da senadora é real.
 
Além disso, os adversários da agora candidata podem explorar alguns pontos de sua biografia política. Por exemplo, seu posicionamento favorável ao afastamento da então presidente Dilma Rousseff (PT) - que pode gerar certo incômodo no eleitorado feminino, um dos alvos da chapa - e a defesa do projeto que trata da suspensão das demarcações de terras indígenas e o pagamento de indenização para fazendeiros. Essa proposta é objeto de fortes críticas por parte de entidades de defesa dos direitos humanos.
 
Cabe lembrar ainda que o mandato de Tebet se encerra agora e as chances de se reeleger senadora seriam no mínimo difíceis - no Mato Grosso do Sul, a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PL) é franca favorita para conquistar a cadeira em disputa. A emedebista ficou com poucas cartas em mãos.
 
Outro ponto a se observar na candidatura Tebet é a disputa pelo espaço dentro do partido. Há um claro conflito interno pelo comando da legenda. Políticos do Norte e do Nordeste disputam o espaço contra os políticos do Sudeste, Sul e Centro-Oeste. O grupo capitaneado por Calheiros e pelo ex-senador Eunício Oliveira (CE) tenta derrubar o grupo de Tebet e Baleia Rossi (SP). A disputa de Tebet contra o alagoano pela cadeira da presidência do Senado ainda não foi digerida.
 
Já Mara Gabrilli enfrenta outra realidade. Em meio de mandato, ela retornará ao Senado Federal caso a chapa presidencial seja derrotada. Na verdade, a indicação de seu nome tem outra função política - tentar manter o PSDB unido, após o racha decorrente das prévias que expuseram ao país a falta de unidade da legenda. Além disso, sua presença na campanha pode ajudar a alavancar a candidatura do governador Rodrigo Garcia (PSDB) em São Paulo. O tucanato, importante ressaltar, pode perder o comando do estado após mais de vinte anos de hegemonia.
 
Em suma, a chapa Tebet/Gabrilli precisará ganhar força de imediato, para ter alguma chance de avançar na disputa. O primeiro objetivo será ultrapassar o por ora terceiro colocado nas pesquisas, Ciro Gomes (PDT). Conquistado esse espaço, as senadoras poderão se apresentar ao eleitor como a alternativa real a Bolsonaro e Lula - mas os desafios estão apenas começando.
 
André Pereira César
Cientista Político

 
Alvaro Maimoni
Consultor Jurídico

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