Eleições 2022: sobre a chapa Lula/Alckmin - Política - Hold

Eleições 2022: sobre a chapa Lula/Alckmin

A disputa sucessória de 2022 apresenta uma combinação a princípio inusitada. A união entre o ex-presidente Lula (PT) e seu antigo adversário político Geraldo Alckmin (PSB) sintetiza o movimento que determinados grupos estão fazendo para derrotar nas urnas o presidente Jair Bolsonaro (PL) em outubro. O ex-governador paulista tem o DNA do PSDB, partido que ajudou a fundar. Ao se aliar ao petista, ele se torna uma espécie de “Carta ao Povo Brasileiro” e um José Alencar versão 2022, tudo ao mesmo tempo.

Apenas para relembrar, o PT divulgou em junho de 2002 um documento no qual afirmava que, caso Lula fosse eleito no pleito daquele ano, os contratos nacionais e internacionais seriam respeitados. O medo de setores do mercado e da classe média com a possibilidade da chegada de um partido de centro-esquerda ao poder motivou a ação naquele momento. Hoje, com o discurso dos bolsonaristas sobre o “fantasma do comunismo”, movimento similar se fez necessário. Alckmin entrou no jogo para acalmar o eleitor médio e também segmentos importantes da economia. A aposta está feita.

A rigor, Lula jamais foi um radical de esquerda. Ao contrário, sempre buscou a negociação com os mais diversos setores da sociedade - e seus dois mandatos presidenciais comprovam isso. Um político que busca o consenso e o entendimento sempre, e respeita as regras do jogo.

Nascido em Garanhuns, no interior de Pernambuco, Lula mudou-se cedo para São Paulo, onde tornou-se metalúrgico e iniciou a vida de sindicalista. Durante o regime militar, liderou as grandes greves de operários na região do ABC paulista e, no início da década de 80, ajudou a fundar o PT. Foi deputado federal constituinte. Antes de chegar ao Planalto, foi derrotado por três vezes consecutivas na disputa presidencial - em 1989, para Fernando Collor; em 1994 e 1998, para Fernando Henrique Cardoso.

As gestões Lula tiveram como marco a consolidação de programas sociais, como o Bolsa Família. Simultaneamente, respeitou as regras econômicas herdadas dos governos do PSDB e, no plano internacional, colocou o Brasil como importante player global, com foco especial na questão ambiental e na criação dos BRICS. Denúncias e escândalos igualmente marcaram suas administrações, com destaque para o mensalão, que quase levou a seu afastamento entre 2005 e 2006.

Fora do poder, seguiu como das mais relevantes lideranças políticas. No auge da operação Lava Jato, ele encontrava-se em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais para eleições presidenciais de 2018. No entanto, em abril daquele mesmo ano, por ordem do então juiz Sérgio Moro, foi preso e ficou em um cárcere da Polícia Federal em Curitiba (PR) até novembro de 2019. Com os direitos políticos recuperados em 2021, ele retornou ao jogo com grandes chances de reconquistar o Planalto.

Já o candidato a vice, Geraldo Alckmin, tem uma biografia absolutamente distinta do petista. Natural de Pindamonhangaba (SP) - terra do também candidato Ciro Gomes (PDT) - , ele é médico mas desde cedo milita no mundo da política. Foi vereador e prefeito de sua cidade e, posteriormente, deputado estadual e deputado federal. Também ocupou a secretaria estadual de Desenvolvimento antes de tornar-se governador (quatro mandatos). Muito ligado a Mário Covas, foi um dos fundadores do PSDB. Ao deixar o partido e ingressar no PSB, expôs a grave crise interna pela qual passam os tucanos.

Quais os ativos da chapa? Em primeiro lugar, Lula e seus aliados terão bom tempo de rádio e televisão durante a campanha. A presença de Alckmin, por seu turno, busca atrair setores médios do eleitorado, como já afirmado aqui, mas não só. Ele pode se tornar uma importante ponte entre os petistas e segmentos estratégicos, como o agronegócio, além de avançar no interior paulista, historicamente mais conservador. Há ainda o apoio de lideranças políticas importantes de outros partidos, como o MDB das regiões Norte e Nordeste. Por fim, parcela significativa do eleitorado tem na memória os tempos de bonança dos governos Lula, que serão abordados ao longo da campanha.

No entanto, os desafios para Lula são igualmente grandes. De saída, ele tem pela frente um adversário com forte apelo eleitoral, o presidente Bolsonaro, que vem crescendo lenta mas consistentemente nas diferentes pesquisas disponíveis e tem a “força da caneta” nas mãos. Além disso, existe na sociedade brasileira um certo antipetismo, enraizado há tempos, que já está sendo explorado pelos adversários. A disseminação de Fake News, expediente que já se registra na campanha, pode servir de casca de banana para a chapa - em especial nas pautas de costumes e religiosas (“Lula vai fechar todas as igrejas”, “kit gay”). Por fim, os escândalos das eras Lula e Dilma são, de algum modo, um teto de vidro que gera preocupação.

A campanha está apenas no início e, apesar de curta, será tensa e intensa. O objetivo declarado de Lula e aliados é vencer a disputa já no primeiro turno, tarefa que hoje parece pouco provável. Um eventual segundo turno contra Bolsonaro terá resultado imprevisível.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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