Eleições 2022: sobre a chapa Ciro/Ana - Política - Hold

Eleições 2022: sobre a chapa Ciro/Ana

O neopedetista Ciro Gomes encontrou na colega de partido Ana Paula Matos, ex-vice-prefeita de Salvador (BA), sua colega de chapa na disputa sucessória. Em tese, a chapa “puro-sangue” parece ser uma boa opção, mas ao se olhar de perto, na verdade se observa uma dificuldade extra para o candidato, pois revela que não conseguiu se coligar a partido algum. Isolado, ele segue perdendo espaço junto ao eleitorado.

Polêmico e com o comportamento por vezes mercurial, Ciro é uma figura única na política brasileira, é advogado e professor universitário. Filho do ex-prefeito de Sobral (CE) e de uma professora, apesar de ter nascido em Pindamonhangaba, cidade do interior de São Paulo, iniciou e fez carreira política no estado do Ceará. Foi prefeito de Fortaleza, governador do Ceará e secretário estadual de Saúde, deputado estadual e federal, ministro da Fazenda (no governo de Itamar Franco) e da Integração Nacional (no primeiro governo do ex-presidente Lula). É irmão do ex-governador do Ceará e atual senador Cid Gomes (PDT).

Apesar da experiência política, o currículo de peso pouco tem ajudado em suas tentativas de chegar ao Planalto. Ele está na quarta campanha presidencial, por ora com pouquíssimas chances de êxito.

Importante registrar a trajetória partidária do agora candidato à presidência da República. Ele iniciou a carreira na Arena, legenda que dava sustentação ao regime militar. Depois passou por PDS (PFL-Democratas-União Brasil), PMDB (MDB), PSDB, PPS (Cidadania), PSB, PROS e, desde 2015, está no PDT. De certo modo, seus movimentos entre as agremiações lembram os do presidente Jair Bolsonaro (PL), igualmente pouco fiel aos partidos aos quais pertenceu. Esse comportamento pode gerar desconfiança nos correligionários.

Salta à memória a forte relação entre Ciro e o também ex-governador cearense e atual senador Tasso Jereissati, uma das lideranças históricas do PSDB. Essa proximidade foi politicamente útil em alguns momentos, mas hoje parece enfraquecida - à exceção da política cearense, onde o tucano apoiará o candidato de Ciro ao governo estadual.

Já a candidata a vice na chapa tem perfil mais discreto. Advogada com mestrado em administração, é servidora concursada da Petrobras. Ela, inclusive, participará da coordenação da campanha. É inegável o apelo eleitoral do nome escolhido - mulher com conhecimento de administração pública. Resta fazer esses atrativos chegarem ao eleitor. Um dado interessante. Ela foi vice-prefeita da gestão de Bruno Reis, do grupo político de ACM Neto (União Brasil).

Os obstáculos são muitos, o principal deles a incapacidade, até o presente momento, de Ciro ultrapassar os 10% de intenção de votos. Aliás, ele corre o risco de receber menos votos que nas eleições de 2018, o que representaria um grave revés político. Além disso, algumas lideranças pedetistas não ficaram satisfeitas com a escolha do candidato, pois seu fraco desempenho pode afetar os votos para a Câmara dos Deputados - menos deputados federais, menos recursos dos fundos partidários nos cofres da legenda.

Outro ponto a se observar é que a esquerda não perdoa o fato de Ciro Gomes não ter declarado apoio a Fernando Haddad e de ter se ausentado do país no segundo turno das eleições de 2018. Esse, aliás, é um dos principais fatores que levaram Ciro ao visível isolamento político pela esquerda/oposição nos acordos políticos para o pleito de 2022. Assim como Simone Tebet (MDB), a falta de palanque e apoio nos estados poderá fazer a diferença e atrapalhar a busca por votos durante a campanha eleitoral.

Por falar em Simone Tebet, de imediato, o principal desafio é evitar perder espaço para a candidata do MDB, que disputa voto a voto com a chapa do PDT. Caso isso ocorra, Ciro pode ser definitivamente abandonado pelos correligionários. Isso explica em larga medida a atual estratégia de conquistar, nas redes sociais, o eleitorado jovem, importante contingente no processo em curso.

Em suma, salvo uma mudança radical no quadro, Ciro Gomes caminha para mais uma derrota na disputa presidencial. Confirmada essa realidade, seu futuro político será uma incógnita.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni - Consultor Jurídico

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