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Eleições 2022: o que realmente importa – o debate econômico

Ainda no período pré-eleitoral a economia já ocupava o topo das preocupações da população, de acordo com as pesquisas de opinião pública. O cenário era claro - a corrupção, que dominou os debates em 2018, cedia espaço para a inflação, desemprego, fome e desigualdade.

Ao longo da campanha de segundo turno, porém, o ambiente mudou. A chamada “guerrilha digital”, a pauta de costumes e o tema religião ganharam força e as questões realmente importantes como economia, por exemplo, ficaram num segundo plano. O debate ficou nitidamente empobrecido.

Aqui entram em cena duas realidades distintas, os discursos oficiais de campanha e a economia real. O otimismo do presidente Jair Bolsonaro (PL) com relação à questão econômica é normal, dado que ele precisa manter sua militância mobilizada. No entanto, o quadro geral inspira, no mínimo, cautela. Os números preocupam e o horizonte está carregado. Más notícias no plano interno e também no exterior.

Alertas não faltam. Entidades como o Fundo Monetário Internacional (FMI) têm feito projeções sombrias para o próximo ano, com possibilidade inclusive de recessão global, que afetaria diretamente o Brasil.

As notícias não são boas. Depois de dois meses seguidos de deflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) – considerado a prévia da inflação oficial do país – ficou em 0,16% em outubro, o indicador acumula alta de 4,80% no ano e de 6,85% nos últimos 12 meses, ainda acima do teto da meta estabelecida pelo governo para este ano.

Chamou atenção especial uma entrevista do ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Segundo ele, e de acordo com projeções, o déficit estimado para 2023 não seria de “meros” R$ 140 bilhões, como afirma o governo, mas sim de impressionantes R$ 400 bilhões. Entre os responsáveis estão os recentes “pacotes de bondades”, que em breve cobrarão uma conta salgada de quem for o eleito no próximo dia 30 de outubro.

Assim, não surpreende que o Planalto e a equipe econômica já estejam estudando a possibilidade de se adotar medidas impopulares para logo depois do pleito, caso Bolsonaro seja reeleito. De um lado, especula-se sobre a desindexação salário mínimo da inflação como uma alternativa para resolver a questão do teto de gastos. Segundo economistas, a medida afetaria não somente os que recebem o salário mínimo, mas também aposentados e pensionistas. Impacto negativo sobre dezenas de milhões de pessoas.

Mas não é só. Fala-se agora sobre a retirada, do Imposto de Renda, da dedução de gastos com saúde e educação, gerando uma economia de cerca de R$ 30 bilhões para o governo. Nesse caso, a classe média é quem sentirá diretamente os efeitos.

O fato é que o cobertor é curto e se faz necessária uma ampla discussão sobre os rumos da economia, o que realmente importa. As “cortinas de fumaça” da campanha, como a questão religiosa e a pauta de costumes, nesse momento, não são temas mais importantes ao país. Já o otimismo do titular do Planalto com o destino econômico do Brasil não condiz com a realidade.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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