Eleições 2022 - Lula no JN: aposta na experiência - Política - Hold

Eleições 2022 – Lula no JN: aposta na experiência

A participação do ex-presidente Lula (PT) no Jornal Nacional, da Rede Globo, seguiu um roteiro mais ou menos esperado. Após um início inseguro, onde inclusive ele parecia ler um documento para responder um questionamento, ele mudou de postura e dominou o debate. Ao final, o saldo foi positivo.

Assim como ocorreu com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), os entrevistadores tentaram explorar as contradições do petista. Aqui falou mais alto a experiência de Lula, que rebateu de maneira elegante e até irônica. Ele conseguiu fugir das cordas.

Com relação aos assuntos abordados, nenhuma novidade. A questão da corrupção nos governos do PT foi bastante explorada, assim como o fracasso do governo Dilma - ele chegou a reconhecer os erros da gestão de sua aliada, falando em especial da “questão da gasolina”. Também a atual polarização apareceu no debate, assim como o chamado “orçamento secreto”.

Chamou a atenção a situação do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) em um eventual governo. O antigo desafeto e hoje aliado terá participação de destaque na gestão, indo além da protocolar vice-presidência. A conferir. Nesse ponto, uma clara sinalização aos mais conservadores.

Fiel a seu estilo, Lula respondeu com veemência e não se deixou cair em armadilhas. As cascas de banana não ameaçaram em momento algum, mesmo quando temas mais espinhosos eram colocados à mesa - por exemplo, as investigações da Lava Jato, que culminaram com sua prisão.

Talvez o ponto mais importante da entrevista tenha sido quando o petista falou em “pacificar o país”, numa tentativa de mostrar-se mais conciliador que o titular do Planalto. Aqui, Lula tratou de outro tema sensível e que incomoda o eleitor médio, o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST). Ele afirmou que o movimento, hoje, é diferente de trinta anos atrás, quando invadia propriedades rurais. Estava tão à vontade, que terminou esse tópico convidando a jornalista Renata Vasconcellos para uma visita ao MST.

Por falar em Renata Vasconcellos, Lula interagiu diretamente com a jornalista de forma cordial e sem interrompê-la. No público feminino, a demonstração de respeito à mulher foi positiva e teve destaque. Bolsonaro, por sua vez, quando da sua entrevista, foi duramente criticado por não dar voz e sempre interromper a mulher que o entrevistava. Quando era Willian Bonner, o titular do Planalto ouvia atentamente e sem interrupções. Nesse tópico, ponto para Lula.

Nas redes sociais, repetiu-se o embate registrado durante e após a entrevista de Bolsonaro, no início da semana. Enquanto petistas celebravam o desempenho do candidato, bolsonaristas atacavam o ex-presidente. Nesse campo, nada de novo. Só que a entrevista de Lula gerou mais de 15 milhões de interações no Twitter e foi o assunto mundial mais comentado.

Por fim, um detalhe interessante. Antes da entrevista, Lula recebeu treinamento do jornalista Chico Pinheiro, ex-Rede Globo. Certamente esse auxílio foi importante para o desempenho do petista no programa - que mais uma vez teve audiência recorde.

André Pereira César

Cientista Político

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