Eleições 2022: depois do primeiro turno* - Política - Hold

Eleições 2022: depois do primeiro turno*

A semana inicial de campanha no segundo turno confirmou o esperado - forte movimentação em torno dos dois candidatos presidenciais que se enfrentarão na rodada suplementar de 30 de outubro. Além disso, também nos estados os anunciados apoios e alianças mexeram com o quadro geral.

No caso da disputa pelo Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT) marcaram alguns gols no quesito adesões. O atual mandatário recebeu o apoio de diversos governadores reeleitos, entre eles Ratinho Júnior (PSD/PR), Mauro Mendes (União Brasil/MT), Ronaldo Caiado (União Brasil/GO) e Ibaneis Rocha (MDB/DF). A jóia da coroa, porém, veio da região Sudeste, com os posicionamentos favoráveis de Romeu Zema (Novo/MG) e Cláudio Castro (PL/RJ). Não que esses nomes representem votos adicionais ao presidente, mas consolidam aqueles já conquistados em seus estados - e dão palanques importantes.

Cabe um registro especial, já comentado nesse espaço, sobre o “apoio incondicional” do governador derrotado de São Paulo, o tucano Rodrigo Garcia. Sua decisão gerou uma crise adicional no PSDB e ele se isolou politicamente. O ainda comandante de São Paulo viu secretários de peso de seu governo abandonarem sua gestão e, desse modo, terá um final melancólico no Palácio dos Bandeirantes.

Na campanha de Lula, o apoio envergonhado de Ciro Gomes (PDT) contrasta com a adesão de certo modo mais entusiasta de Simone Tebet (MDB). No âmbito dos partidos, PDT, Cidadania e Solidariedade fecharam com o petista. Palanques adicionais estão contabilizados.

O principal trunfo do ex-presidente, no entanto, se deu em outro campo. Ao receber o apoio de economistas de peso como Pedro Malan, Pérsio Arida, Edmar Bacha e Arminio Fraga, Lula selou uma aproximação com as origens do Plano Real. Os embates do passado estão, ao menos por ora, esquecidos.

Sobre o Congresso Nacional, muito se falou sobre a nova composição do Senado Federal. A maior parte dos 27 senadores (1/3 da Casa) eleitos é sem dúvida alinhada com o bolsonarismo (Damares Alves, Sérgio Moro, Hamilton Mourão, entre outros), mas o saldo final aponta uma Câmara Alta bastante dividida. O novo presidente, seja Bolsonaro ou Lula, precisará negociar muito para fazer avançar sua agenda esses parlamentares.

Os institutos de pesquisa, bastante criticados ao final do primeiro turno, retomaram suas atividades possivelmente realizando alguns ajustes. Os levantamentos iniciais, do Ipec e da Genial/Quaest, indicam vantagem de Lula, mas nada que possa ser considerado muito confortável. O jogo segue em aberto. Hoje, sexta-feira, será divulgada nova pesquisa do DataFolha.

Por sinal, esses institutos estão na mira do Congresso Nacional. Enquanto já há número mínimo de assinaturas para a abertura de uma CPI no Senado Federal, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), promete colocar em pauta nas próximas semanas um projeto de lei que dificulta a vida das empresas que realizam pesquisas. Multas e até prisões de responsáveis pelos levantamentos estão previstas no texto. Tentativa clara de fechar o cerco.

Por fim, o início do segundo turno foi também marcado por novas polêmicas entre as candidaturas presidenciais, em especial nas redes sociais. Maçonaria, satanismo e religião movimentaram parcela significativa do eleitorado, que parece mais interessado em uma pauta de ataques ao adversário do que em discutir propostas de governo. Esse deverá ser o tom da campanha na reta final.

O segundo turno já começou em ritmo intenso, e também tenso. O embate de ideias deverá ficar em terceiro plano. Serão longos 23 dias pela frente.

André Pereira César
Cientista Político

Alvaro Maimoni
Consultor Jurídico

*Tema da live de 6 de outubro de 2022, disponível em nosso canal no YouTube.

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