Eleições 2022: depois do 7 de setembro* - Política - Hold

Eleições 2022: depois do 7 de setembro*

O tão esperado 7 de setembro, data em que se celebraram os duzentos anos da Independência do Brasil, teve saldo neutro para o presidente Jair Bolsonaro (PL). De um lado, ele mobilizou, com sucesso, seus apoiadores nas principais cidades do país. De outro, não conseguiu ir além do discurso aos “convertidos” - o titular do Planalto segue falando exclusivamente para sua bolha.

As imagens são claras. O que se viu na Esplanada dos Ministérios, na Avenida Paulista e em Copacabana foi uma multidão de apoiadores do presidente da República, repetindo com ênfase seus bordões e palavras de ordem. A massa bolsonarista segue mobilizada e disposta a defender seu líder a todo custo. Eles conseguem fazer barulho e repercutem fortemente nas redes sociais - território por eles dominado há anos, diga-se.

Apesar dessa movimentação em massa, os resultados práticos são limitados para Bolsonaro. Em momento algum da celebração (aliás, em momento algum da campanha à reeleição) o titular do Planalto abordou temas cruciais para a população, como a economia e a geração de empregos, a saúde e a educação. Ao contrário, ele repetiu a velha cantilena de “Deus e família”, discurso com evidentes ecos integralistas. Para os seus mais fiéis apoiadores, a abordagem desses temas é suficiente para garantia e manutenção de votos. Só que essa alienação reforça a percepção de suas limitações como gestor e afasta outros eleitores, em especial os mais moderados.

Importante notar a ausência dos representantes dos demais poderes no palanque oficial do evento de comemoração dos duzentos anos de Independência do Brasil. Apesar de formalmente convidados, deixaram de ir os presidentes do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, do Congresso Nacional e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD/MG) e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL) – esse último, por sinal, importante aliado de Bolsonaro. Também foi notada ausência de ministros e dos presidentes dos partidos da base de sustentação do governo, como Valdemar Costa Neto (PL/SP) e Ciro Nogueira (PP/PI).

Pior, é quase consensual entre analistas e juristas que o presidente teria cometido uma série de ilegalidades, chegando mesmo a colocar em risco sua candidatura. A fronteira entre as comemorações cívicas - de caráter público - e a campanha do candidato à reeleição foi claramente atravessada. Não por acaso, partidos de oposição protocolaram diversas ações contra a candidatura Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Importante ressaltar que essas ações demoram a tramitar e, caso gerem alguma resposta efetiva da Justiça, não será agora. De todo modo, os adversários do presidente demarcaram uma importante posição política - os limites devem ser claros e respeitados.

Em paralelo, a disputa tende a se concentrar mais e mais na região Sudeste do Brasil. A mais recente pesquisa Genial/Quaest sobre a disputa em São Paulo acendeu um sinal de alerta na campanha do ex-presidente Lula (PT). De acordo com o levantamento, Bolsonaro pela primeira vez aparece à frente do petista no maior colégio eleitoral do país (37% a 36%). Além disso, na corrida por uma cadeira do Senado Federal, o ex-governador Márcio França (PSB), aliado de Lula, está tecnicamente empatado com o ex-ministro Astronauta Marcos Pontes (PL), umbilicalmente ligado ao titular do Planalto. O bolsonarismo ganha tração no estado, em especial no interior, sabidamente mais conservador do que progressista.

Está prevista para essa sexta-feira, 9 de setembro, a divulgação dos resultados de nova pesquisa do DataFolha. O levantamento certamente captará o humor do eleitorado após os eventos de 7 de setembro. A partir de então, as principais campanhas reajustarão suas estratégias.

P.S. – Na tarde do dia 08 de setembro, faleceu a Rainha Elizabeth II. Uma das últimas figuras históricas ainda viva, se junta a outras que faleceram nesse século como Margareth Thatcher, Ronald Reagan, Nelson Mandela, Boris Yeltsin, Mikhail Gorbatchev, Jacques Chirac, Helmut Kohl, Fidel Castro, João Paulo II e Muammar al-Gaddafi. Líderes de quase todas as Nações enviaram condolências. O governo brasileiro decretou luto de três dias.

André Pereira César

Cientista Político

Alvaro Maimoni

Consultor Jurídico

*Tema da live de 8 de setembro de 2022, disponível em nosso canal no YouTube.

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