A rigor, o primeiro debate do segundo turno, promovido pela TV Bandeirantes, não trouxe novidades no campo da sucessão presidencial. Tanto Jair Bolsonaro (PL) quanto Lula (PT) jogaram relativamente bem em seus campos. Não foram registrados deslizes de grande efeito sobre os eleitores.
Do lado do titular do Planalto, que trabalha para ganhar terreno e virar o jogo contra o petista, o que se viu foi o de sempre. Bolsonaro tentou explorar as supostas contradições do ex-presidente, em especial no território da ética, buscando relembrar casos de corrupção nas gestões de Lula e Dilma Rousseff. Não por acaso, ele levava a tiracolo o ex-ministro Sérgio Moro (União Brasil/PR), com quem reatou relações. A princípio, o efeito foi nulo.
Lula, por sua vez, aparentava uma confiança que não se viu nos debates do primeiro turno. Com o olhar voltado para as câmeras, ele tentou passar uma mensagem de esperança e otimismo para o eleitor. Se teve ou não sucesso, as pesquisas mostrarão.
Um detalhe importante. O formato do programa deixou os dois candidatos mais à vontade, podendo circular enquanto discorriam suas teses. Nesse quesito, o petista parecia mais em casa. Bolsonaro, por vezes, aparentava nervosismo, em especial quando tinha em mãos algum papel com anotações.
No terreno das propostas, tanto o atual presidente quanto seu adversário pouco avançaram. Não foram discutidos a fundo questões de economia, de infraestrutura, de saúde ou de educação. Aqui, o eleitor saiu do mesmo modo que entrou - as dúvidas e desconfianças seguem no ar.
Cabe ressaltar que o saldo final será dado pelo uso que as militâncias farão do que foi apresentado pelos candidatos no debate. Aqui, entra em cena em especial a capacidade de articulação das redes sociais. Recortes de falas e do gestual de Bolsonaro e de Lula certamente se transformarão em memes e outros artifícios, que circularão pelos próximos dias. A batalha das narrativas estará em campo.
Por fim, quem esperava um confronto de baixo nível se surpreendeu. Os dois candidatos se contiveram, no limite respeitando o eleitor. Em tempos de democracia em xeque, foi uma espécie de respiro.
André Pereira César
Cientista Político
