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Eleições 2022: as incertezas da transição

Uma questão que já se coloca, passados poucos dias do primeiro turno, diz respeito ao processo de transição após a definição do presidente a ser eleito no final de outubro. A rigor, serão dois meses de montagem do governo que tomará posse no início de janeiro. O que ocorrerá nesse período?

Caso o presidente Jair Bolsonaro (PL) confirme a recondução, o que se verá será uma temporada de ajustes na atual administração. Trocas pontuais de peças, algumas delas em função dos apoios angariados ao longo da campanha - vários governadores, senadores e deputados eleitos e/ou reeleitos certamente buscarão espaço na nova gestão do titular do Planalto. Inclua-se nesse grupo, os políticos derrotados (o tucano paulista Rodrigo Garcia, por exemplo) e presidentes e líderes dos partidos que apoiaram a campanha de Bolsonaro.

No âmbito do Congresso Nacional, Bolsonaro não deverá abordar temas espinhosos e polêmicos. É altamente provável que ele adote um discurso voltado para o eleitorado conservador, afirmando que sua agenda de costumes tem o respaldo da sociedade.

No momento, o mercado especula sobre o destino do ministro da Economia, Paulo Guedes. Bolsonaro ainda não confirmou se o ex-Posto Ipiranga continuará à frente da pasta. Sabe-se que setores da chamada “ala política” do governo têm restrições ao trabalho do economista e não se incomodariam com uma eventual mudança. Resta saber quem aceitaria a difícil tarefa de conduzir a economia brasileira a partir de 2023, que tem pela frente uma bomba fiscal que explodirá no colo de quem ocupar a cadeira.

Já em caso de vitória de Lula (PT), a situação será diametralmente oposta. Nos dois meses entre a eventual vitória e a posse, ele deverá chamar os mais diversos setores da sociedade - mercado, setor produtivo, partidos, sindicatos, intelectuais - para dar início ao que poderia ser qualificado como um processo de reconstrução do Brasil. O “governo ponte” dará o pontapé inicial - governo que será uma ampla coalizão, diga-se, e não meramente do PT.

Não por acaso, o anunciado apoio de economistas anteriormente ligados ao moribundo PSDB, entre eles alguns dos formuladores do Plano Real, tem especial importância. Assim como o mercado, que cobra do petista maiores detalhes sobre as propostas para a economia, a candidata Simone Tebet (MDB), que declarou apoio formal à candidatura Lula, também exige a implantação de uma nova âncora fiscal. O quanto antes for anunciado o nome do novo czar da área, melhor para o petista.

Cabe ressaltar que, derrotado, Bolsonaro não “abrirá as portas” de sua administração para o novo presidente. O amplo entendimento ocorrido em 2002, quando as equipes de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e do então recém-eleito Lula trabalharam em harmonia, ou em 2018, quando Michel Temer passou as chaves para Bolsonaro, não se repetirá. A passagem de bastão se dará sem um diálogo entre as partes.

Enfim, o processo sucessório está longe do fim. As incertezas seguem no ar, e certamente continuarão após a conclusão do segundo turno.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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