E agora, PSDB? - Política - Hold

E agora, PSDB?

O pior cenário possível se materializou para o PSDB no dia das prévias partidárias. Não bastasse a guerra interna, com dois contendores e seus aliados conflagrados, a pane no aplicativo de votação, impossibilitando a conclusão do processo, expôs a legenda ao ridículo. O prejuízo está dado, e é elevado.

Já se sabia que, independentemente do vencedor, o tucanato sairia rachado do processo. Fosse Arthur Virgílio (AM), João Dória (SP) ou Eduardo Leite (RS) o escolhido pelos filiados aptos a votar, inevitavelmente haveria uma cisão. A fissura, porém, se tornou uma rachadura de proporções gigantes. O futuro do PSDB está em xeque.

De um lado, o governador paulista colocou em prática seus métodos de ação já conhecidos, passando um trator sobre seus adversários. De outro, o governador gaúcho, escudado pelo deputado mineiro Aécio Neves, uma liderança partidária influente nos bastidores da Câmara dos Deputados e, diga-se, simpatizante do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), tentou melar o jogo. O embate anunciava a tragédia.

As consequências serão graves. Se havia alguma mínima possibilidade de unidade pós-prévias, ela não existe mais. Pior, quadros históricos do partido procurarão outra agremiação - a começar pelo ex-governador Geraldo Alckmin, que se aproxima mais e mais do PSD de Gilberto Kassab e ensaia uma aliança com o ex-presidente Lula (PT). Muitos seguirão seu exemplo. Revoada no ninho tucano.

O PSDB viveu sua “era de ouro”, dos anos noventa até 2014. De Fernando Henrique e Mário Covas, passando por José Serra e Tasso Jereissati, o partido desaguou em lideranças inexpressivas e desconectadas da realidade nacional. O custo da reversão desse quadro será elevado. Mudança de nome, de programa, de símbolos e de comandantes, apenas para começar. Convencer o eleitor não será fácil.

O pífio desempenho da legenda nas eleições de 2018, com menos de 5% dos votos para presidente da República e uma bancada federal reduzida, tende a se repetir no pleito do próximo ano. Nas eleições de 2020, apesar de ter eleito os prefeitos que governam o maior número de eleitores, em números reais, o partido encolheu. Saiu de 34,5 milhões em 2016 para 23,6 milhões de eleitores. O encolhimento é consistente. De protagonista no cenário político, com projeto claro e unidade, o PSDB passa a ser um partido secundário, pouco relevante. O futuro é nebuloso.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

Comments are closed.