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Cortinas de fumaça no Meio Ambiente

O governo Bolsonaro tem como uma de suas principais características a utilização de um processo de tentativa e erro - caso alguma proposta ou medida funcione, ótimo. Do contrário, muda-se o discurso e buscam-se responsáveis (imprensa, oposição ou qualquer adversário, real ou imaginário), por intermédio da construção de uma narrativa, como se observa na recente declaração de Bolsonaro de que existem infiltrados do Partido dos Trabalhadores na atual equipe econômica. Em suma, o “se colar, colou” nunca antes foi tão verdadeiro. Junto ao eleitorado bolsonarista, esse expediente tem funcionado até agora.

Esse roteiro acabou de se repetir. A tentativa de criação pelo governo de um novo programa, chamado Renda Cidadã, para beneficiar os já assistidos pelo Bolsa Família e também os que recebem o auxílio emergencial, claramente possui pretensões eleitorais. Bolsonaro não esconde que visa aumentar sua popularidade junto às camadas mais necessitadas da população brasileira, em especial nas regiões Norte e Nordeste.

No entanto, a condução do processo ocorreu de maneira equivocada. Na verdade, a desastrada ideia da equipe econômica de se utilizar recursos do FUNDEB e de precatórios para a implementação do programa caiu mal junto ao mercado econômico e financeiro, com efeito imediato de derrubada da bolsa e aumento do dólar. Pedalada fiscal, gambiarra e contabilidade criativa foram algumas das definições dadas ao movimento. Ecos do governo Dilma em pleno 2020.

Auxiliares mais próximos, no entanto, já aconselham o presidente a abandonar tal medida, pelo menos até que se consiga uma fonte de custeio para o programa. Caso o governo recue, como parece provável por ora, não será a primeira vez - retorna a campo a ideia do "se colar, colou".

Enquanto o episódio se desenrolava, o Planalto criou algumas cortinas de fumaça, na tentativa de distrair a atenção de todos. Assim, os olhos se voltaram para as recentes declarações do ministro da Educação, Milton Ribeiro, que afirmou que o homossexualismo ocorre em famílias desajustadas; para as palavras do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, sobre a postagem nas redes sociais da deputada Bia Kicis (PSL/DF), com conteúdo racista.

A distração foi suficiente para que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na presidência do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) revogasse, na última segunda-feira (28), quatro resoluções que tratavam de preservação ambiental em todo o país, sendo duas delas referentes à proteção de áreas de vegetação nativa, como manguezais e restingas. Esvaziado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o Conama é hoje controlado majoritariamente por ministérios e membros do governo federal, e conta com participação praticamente nula da sociedade civil.

As cortinas de fumaça, nesse caso, funcionaram. Quando a sociedade se deu conta, a boiada passou.

André Pereira César
Cientista Político

Alvaro Maimoni
Consultor Jurídico

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