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Centrão e esquerda no Senado Federal 

A exemplo da Câmara dos Deputados, o Senado Federal caminhou para a direita no pleito desse ano. Dos 27 senadores eleitos em 2 de outubro, vinte são de alguma maneira alinhados à agenda bolsonarista. Qual será a correlação de forças na Casa a partir de 2023?

É importante ressaltar, de saída, que nas eleições de agora foi renovado 1/3 do Senado - 27 senadores, de um total de 81. Um para cada estado.

Em um quadro similar ao da Câmara, o Centrão teve excelente desempenho. O PL terá a maior bancada entre os senadores. Os liberais terão treze cadeiras (16%) e poderão chegar a quinze, caso dois representantes do partido na Casa percam o segundo turno na disputa pelo governo de seus estados.

O PP do senador licenciado Ciro Nogueira (PI) comanda sete cadeiras, e o Republicanos, três. O chamado “núcleo duro” do Centrão, portanto, terá 23 senadores, 28,5% da Casa.
Somando a esse contingente dois partidos com similaridades programáticas, o União Brasil (onze senadores) e o PSD (dez), chega-se a 54% do Senado.

Esse quadro é, em tese, favorável ao presidente Jair Bolsonaro (PL), caso ele seja reeleito. O atual titular do Planalto enfrentará menos obstáculos para tentar fazer avançar sua agenda, tanto de costumes quanto na economia.

Um detalhe importante. A bancada supostamente bolsonarista não pode ser considerada um bloco único. Há importantes diferenças entre, por exemplo, Damares Alves (Republicanos/DF), cujo foco de ação está na pauta de costumes, e Tereza Cristina (União Brasil/MS), representante do setor do agronegócio e de perfil mais pragmático. Também a agenda lavajatista, com destaque para o ex-ministro Sérgio Moro (União Brasil/PR), terá voz na Casa.

No campo da esquerda, PT (nove senadores), PDT (dois), PSB (dois) e Rede (um) representam modestos 17,3% dos senadores. Aqui, será de fundamental importância a aproximação com o MDB de Simone Tebet, que terá dez cadeiras, além do eventual apoio do PSDB (quatro) e Cidadania (um). Caso eleito, Lula (PT) terá muito a negociar com a Câmara Alta.

A prova de fogo, seja Lula ou Bolsonaro o eleito, acontecerá na eleição à presidência do Senado, em 1º de fevereiro de 2023. As conversas já estão em estágio avançado. A aprovação da agenda do novo presidente da República eleito, dependerá em muito da disposição do presidente do Senado. Assim como Arthur Lira (PP/AL), na Câmara dos Deputados, Rodrigo Pacheco (PSD/MG) luta pela sua recondução ao comando da Casa. Importante observar que, enquanto Lira torce pela vitória de Bolsonaro, o que em tese aumentaria a suas chances de reeleição à presidência da Câmara, Pacheco mira a vitória de Lula, já que, para a base bolsonarista, o atual comandante do Senado não passa de um traidor da causa, quando, além de segurar diversos projetos de interesse dos senadores bolsonaristas, permitiu a abertura da CPI da Covid.

Como se vê, o Senado terá um perfil mais à direita do espectro político, tendendo a ser conservador nos costumes. Enquanto ao Centrão será necessário afinar o discurso interno, à esquerda caberá conquistar aliados no centro tradicional, para sua própria sobrevivência e de um eventual governo Lula.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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