Centrão e esquerda na Câmara dos Deputados - Política - Hold

Centrão e esquerda na Câmara dos Deputados

“O Congresso eleito foi feito para a permanência, a manutenção do governo Bolsonaro para os próximos quatro anos”. As palavras do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), resumem a situação do Parlamento após o resultado do pleito de 2 de outubro. No que diz respeito aos deputados, as urnas apontam um perfil mais à direita. O que vem pela frente?

A princípio, o Centrão foi o grande vencedor da disputa. O PL, partido do presidente da República, elegeu 99 deputados, maior bancada da Casa - lideranças da legenda apostavam em, no máximo, oitenta eleitos. O saldo foi bastante positivo, como se vê.

Ainda no campo do Centrão, o PP, partido de Lira, conquistou 47 cadeiras, seguido do Republicanos, que terá 41 deputados na próxima legislatura. O núcleo duro do bloco, portanto, terá 187 assentos na Casa, 36,5% do total. Um contingente no mínimo respeitável.

Apesar desse quadro, chamam a atenção os movimentos do PP tão logo os resultados foram divulgados. O partido já iniciou conversas com outra legenda, o União Brasil (59 deputados eleitos) - de perfil programático semelhante, diga-se - para uma possível fusão. Caso isso ocorra, o novo ajuntamento superará numericamente o PL (com 106 assentos), tendo assim força política suficiente para pleitear os principais postos da Câmara, como a presidência da Casa, de comissões importantes e a relatoria de proposições de grande relevância. Um embate no seio do Centrão estaria se iniciando? A conferir.

Para o presidente Jair Bolsonaro a situação, em tese, se mostra muito confortável. Com o apoio do Centrão e de outros partidos que defendem uma agenda similar (além do União Brasil, o PSD, que fez 42 deputados, e legendas de menor porte de centro-direita), o titular do Planalto, caso reeleito, terá condições de fazer avançar suas propostas tanto no campo dos costumes como da economia. Só não se sabe a que preço.

E a centro-esquerda nesse jogo? O bloco PT/PCdoB/PV elegeu oitenta deputados, seguido pelo PDT (17), PSB (14) e o bloco PSOL/Rede (14). Assim, os partidos com esse perfil programático-ideológico totalizaram 125 cadeiras, 24,3% do total da Casa. Nesse caso, o ex-presidente Lula (PT), em uma eventual vitória no segundo turno, precisará negociar muito para garantir a governabilidade. O MDB de Simone Tebet e o bloco PSDB/Cidadania já estão no radar das conversas. Mas não só.

Aqui entra mais uma vez em cena o Centrão. As principais lideranças do grupo, como Lira, Ciro Nogueira (PP), Valdemar Costa Neto (PL) e Marcos Pereira (Republicanos), já tiveram ligações com os governos Lula e Dilma Rousseff. Pragmáticos por natureza, eles certamente se aproximariam de uma nova administração petista. Uma parcela significativa do Centrão entraria no barco de Lula. A exceção seriam os deputados bolsonaristas mais radicais, como Eduardo Bolsonaro (PL/SP) e Carla Zambelli (PL/SP).

É inegável que a Câmara se moveu para a direita nas eleições de 2022, apesar de ter eleito a menor bancada evangélica desde 1999. Isso não significa, porém, que os espaços para um eventual governo Lula estejam fechados, ou que estejam totalmente abertos à uma nova administração de Bolsonaro. Ao contrário, o jogo político ganhará nova dinâmica independentemente de ser o petista ou o atual presidente a conquistar o Planalto.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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