Câmara dos Deputados: novo perfil no horizonte - Política - Hold

Câmara dos Deputados: novo perfil no horizonte

A atual configuração da Câmara dos Deputados pode não se repetir na próxima legislatura. A onda da chamada “nova política”, que elegeu muitos novatos em 2018, já é passado, e o pleito municipal de 2020 mostrou isso. Agora, políticos experientes e lideranças regionais ligadas à “velha” política deverão retornar ao cenário. O jogo será outro, dentro da Câmara.

Exemplo dessa realidade está na figura dos ex-governadores. Nada menos que quatorze antigos chefes do Executivo estadual disputarão uma cadeira na Câmara em outubro próximo. No Distrito Federal, - com oito cadeiras em disputa, o quadro é levado ao extremo, com cinco ex-governadores - José Roberto Arruda (PL), Agnelo Queiroz (PT), Rodrigo Rollenberg (PSB), Cristovan Buarque (Cidadania) e Rogério Rosso (Progressistas) - tentando um assento.

Para registrar, hoje somente quatro ex-governadores são deputados federais - Aécio Neves (PSDB/MG), Benedita da Silva (PT/RJ), Camilo Capiberibe (PSB/AP) e Alcides Rodrigues (Patriota/GO).

A presença de políticos com esse perfil tem alguns aspectos importantes. Em primeiro lugar, eles são, em tese, puxadores de votos e poderão ajudar as legendas a elegerem mais deputados. Cabe lembrar que o acesso aos fundos partidário e eleitoral se dá em função do tamanho das bancadas na Câmara. Quanto mais deputados, mais dinheiro em caixa.

Outro aspecto a ser levado em consideração diz respeito à qualidade do debate legislativo. Políticos com mais experiência, tendo ocupado altos cargos na administração pública, acabam por elevar o nível das discussões, tanto nas comissões quanto no plenário. No limite, todos ganham com isso. Espera-se a apresentação de projetos de País no lugar de propostas de ocasião, meramente eleitoreiras ou populistas, como se viu ultimamente.

A volta de políticos com anos de estrada, tende a alterar, ainda, a relação dos parlamentares com a presidência da Câmara. O próximo presidente da Mesa não terá vida fácil.

Mesmo as relações com o Planalto, não importa quem esteja no comando do país, mudam de figura. As negociações se darão em outro plano, a princípio mais qualificado. Mais razão, menos “fígado”.

E não somente ex-governadores estarão na disputa de outubro. Como dito acima, lideranças de todo tipo, em todos os estados, também marcarão presença. Podemos afirmar que se trata da volta da “política profissional”.

Para encerrar, uma historinha. Um ex-deputado federal que ocupou vários mandatos consecutivos, ex-ministro da economia nos governos militares, consultor informal dos ex-presidentes FHC e Lula, era pouco visto circulando pelos corredores da Casa. Perguntado do porquê, a resposta foi simples: dado seu prestígio, não precisava sair de seu gabinete. Pelo contrário. Era ele quem era procurado pelos interlocutores dos mais diversos e importantes segmentos. E, dizem, as propostas e conselhos sempre foram pensando o país, nunca em proveito próprio. Muito diferente do que se vê hoje, na atual legislatura.

A volta de parlamentares com prestígio e experiência de Estado, que entendam a importância do local onde se encontram e que respeitem a liturgia do cargo que ocupam é, antes de tudo, uma necessidade que só fará bem ao País.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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