Bolsonaro, os fatos e a bolha - Política - Hold

Bolsonaro, os fatos e a bolha

Nada de novo no depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à Polícia Federal na quarta-feira, 26 de abril, sobre sua possível participação nos eventos de 8 de janeiro (o “Capitólio tupiniquim”). Conforme o esperado, ele negou qualquer ligação com os eventos. Jogo previamente jogado.

Na prática, os efeitos da fala do ex-mandatário não alteram o curso das coisas. Seus adversários e também a Justiça, além de setores importantes da opinião pública, mantém o entendimento de que, mesmo fora do país, Bolsonaro no mínimo teve influência no ocorrido, com início imediatamente após o encerramento das eleições. As investigações continuarão e, em tese, a pressão aumentará.

Um dado pitoresco, em especial, chamou a atenção e reforçou a percepção de que o grupo outrora no poder tem pouco apreço por uma narrativa minimamente coerente. Ao afirmarem que Bolsonaro publicou por engano, sob efeito de morfina, um vídeo no qual contestava as eleições do ano passado, os bolsonaristas se expõem não somente a “memes”, mas também a sanções judiciais. A situação pode piorar.

Reforça esse cenário o que acontece com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ao mudar a versão e, agora, confirmar ter recebido em mãos o segundo pacote de joias enviado pelo governo saudita, a hoje presidente do PL Mulher se enrola. No limite, ela pode ser acusada de receptação de contrabando. Mais um prato cheio para os adversários.

Cabe aqui uma pergunta. Como o PL (Valdemar Costa Neto e demais lideranças da legenda) se comportará caso a situação legal do casal se complique? Continuarão apoiando ou se afastarão? E o restante do clã Bolsonaro, em especial os filhos com mandatos, qual será o destino caso o quadro se agrave?

Enfim, Bolsonaro e seu núcleo duro seguem falando para seus seguidores fiéis, para sua bolha que não se importa com a verdade. Por mais que os fatos sejam comprovados, esse grupo (mobilizado e barulhento, diga-se) seguirá defendendo o seu líder. Em suma, o mito continuará vivo para uma fração da sociedade brasileira, e a atual polarização será mantida.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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