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Bolsonaro e os partidos: algumas considerações

Uma das principais questões da política brasileira hoje diz respeito ao futuro imediato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele precisará se filiar a uma legenda em breve, caso queira disputar as eleições do próximo ano, seja para reeleição à presidência ou para outro cargo no Legislativo, uma possibilidade que não pode ser descartada. As opções estão à mesa e o final do processo impactará diretamente o pleito que se avizinha.

Outrora amplo, o leque de opções partidárias para o mandatário está restrito a poucas agremiações. Os chamados “nanicos”, por exemplo, com pouca estrutura e escassos recursos financeiros, inicialmente foram os primeiros a serem cogitados por Bolsonaro. Nessa lista estão, entre outros, PRTB e Patriota. No entanto, apesar de terem mantido conversas com o titular do Planalto, acabaram vetando o seu ingresso, muito em função do apetite de Bolsonaro e demais correligionários.

O mesmo se dá com o PTB. Sob o errático comando de Roberto Jeferson, o partido perdeu importantes lideranças, cedeu espaço a radicais e agora, reduzido a uma inexpressiva bancada na Câmara dos Deputados, pouco tem a oferecer ao presidente. Carta praticamente fora do baralho.

Desse modo, ganhou força nos últimos tempos a possibilidade de Bolsonaro filiar-se ao PP. Há obstáculos, porém. A legenda não é um monolito e, em alguns estados, há forte resistência ao ingresso do mandatário. Além disso, o presidente impôs certas condições para entrar no partido que estão sendo discutidas internamente - entre elas, o poder para definir as candidaturas ao Senado Federal em todo o país.

Nos últimos dias, o PL entrou no jogo. O presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, gravou vídeo oferecendo a casa a Bolsonaro. O movimento do político tem uma explicação clara. Mais do que desejar ter Bolsonaro em suas fileiras, ele marcou posição em relação a Arthur Lira e Ciro Nogueira, os dois principais condutores do PP, em uma clara disputa por espaço no miolo do Centrão. Cabe lembrar ainda que o titular do Planalto está longe de ser unanimidade entre os liberais. O vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos, é desafeto assumido de Bolsonaro.

A situação repete o ocorrido antes da campanha eleitoral de 2018. À época, Bolsonaro negociou com diferentes agremiações e, após idas e vindas, selou um acordo com o PSL de Gustavo Bebianno e Luciano Bivar. Um casamento de conveniência e fugaz, que logo terminou em divórcio litigioso, como a história mostrou.

O fato é que o presidente da República nunca foi e jamais será um “homem de partido”, conforme mostra sua biografia política. Essa realidade é do conhecimento geral e entra nos cálculos das lideranças das legendas envolvidas nas negociações.

A decisão final precisará ser tomada em breve. O relógio corre e a indefinição é ruim para as pretensões de Bolsonaro e de seus aliados mais próximos.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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