Bolsonaro e a eterna novela partidária - Política - Hold

Bolsonaro e a eterna novela partidária

Dado o histórico de conflitos nos partidos pelos quais passou, não surpreendeu o impasse surgido às vésperas da filiação de Jair Bolsonaro (sem partido) ao PL. A crise, mesmo que superada, indica que a relação do titular do Planalto com os liberais será tumultuada.

Aos fatos. O presidente da República deseja ter carta branca para decidir o posicionamento do partido nos estados, em especial na disputa pelo Senado Federal. Poder excessivo para alguém que está chegando na legenda, mesmo que seja o supremo mandatário. Impasse inevitável.

Pior, o PL está longe de ser um monolito. Ao contrário, diretórios estaduais do Nordeste defendem o apoio à candidatura Lula (PT) em 2022. Em São Paulo a situação é igualmente complicada - o partido é aliado do governador João Dória (PSDB) e tende a fechar com o vice, Rodrigo Garcia (PSDB), na disputa pelo comando do estado.

Em outra frente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente, teria repassado ao pai toda a repercussão negativa dos eleitores mais fiéis de seu ingresso no PL. Para esse grupo, o titular do Planalto estaria se associando definitivamente à velha política, em um partido diretamente ligado ao escândalo do mensalão.

Há um elemento extra no imbróglio. Enquanto patina para definir seu novo partido, Bolsonaro vê seus adversários em plena movimentação pré-eleitoral. Lula (PT) em turnê pela Europa, Sérgio Moro filiado ao Podemos, o PSDB às portas das prévias que definirão o representante partidário na sucessão, Rodrigo Pacheco no PSD, Ciro Gomes enquadrando o PDT e a entrada no jogo do União Brasil, fruto da fusão do DEM com o PSL. O titular do Planalto pode ter perdido o timing da filiação a alguma legenda.

Por fim, Bolsonaro mantém, em paralelo, conversas com o PP e o Republicanos - trocando em miúdos, o destino inevitável do presidente é o Centrão, independentemente da opinião (e reação) de seu eleitorado raiz.

O titular do Planalto queima pontes de maneira inconsequente. Mesmo que ingresse no PL, a desconfiança das lideranças do partido serão grandes. Rompendo em definitivo com a agremiação de Valdemar Costa Neto, ele ganhará um novo adversário no processo sucessório. Bolsonaro joga o jogo de maneira equivocada.

André Pereira César
Cientista Político

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