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Bolsonaro: dúvidas e suspeitas

A Operação Venire da Polícia Federal, que prendeu seis pessoas próximas a Jair Bolsonaro (PL), inclusive o ex-ajudante de ordens tenente-coronel Mauro Cid, cai como uma bomba sobre o ex-presidente. São muitas as dúvidas e suspeitas que precisam ser apuradas com cuidado. As perguntas ainda sem resposta:

. Como o ex-ajudante de ordens teve acesso ao sistema de saúde para falsificar as carteiras de vacinação? Quem ajudou nesse trabalho?

. Qual a origem dos US$ 35 mil encontrados na casa do ex-assessor presidencial durante a operação da PF?

. O que aparecerá nas conversas registradas no celular de Bolsonaro?

. O que aparecerá nas conversas registradas no celular de Mauro Cid?

. O ex-presidente sabia da fraude? Teria sido sua a ordem para a ação de Mauro Cid?

. O ex-presidente utilizou o documento falsificado em viagens internacionais?

. Fala-se, ainda, na possibilidade de que Mauro Cid, especialista em Rede de Fuga e Evasão (RAFE) pelas Forças Especiais, estivesse preparando um plano de fuga para Bolsonaro. Assim, o caso das jóias sauditas (que também teve participação direta do tenente-coronel) se conectaria com o atual escândalo. As jóias, de valor milionário, garantiriam por um certo período, a sobrevivência do ex-presidente e de sua família. A princípio parece teoria conspiratória, mas é necessário apurar a fundo todas as hipóteses.

No âmbito da política, o dia de ontem foi marcado por inflamados discursos, em especial dos filhos de Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo (PL/SP) e o senador da República Flávio (PL/RJ), que reclamaram da perseguição política e do desnecessário “esculacho” aplicado no ex-presidente.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), sobre o episódio, afirmou que “o que aconteceu hoje do ponto de vista sanitário é preocupante, mas do ponto de vista político, a gente tem que ter muita cautela. Nós não precisamos de nenhum acirramento político e social mais nesse país. As providências têm que ser tomadas, isso está claro, ao nível da Justiça”.

Ou seja, apesar das fortes evidências do cometimento de crime de falsificação de documento público e do envolvimento de Bolsonaro no esquema, o mundo da política não vê com bons olhos essa investida por medo de uma possível desestabilização a ponto de interferir no andamento da pauta no Parlamento.

Tanto que Lira, ao ficar em cima do muro em suas públicas declarações, num perigoso aceno a todos os espectros ideológicos, chega a dizer que uma possível condenação de Bolsonaro serviria mais para fortalecer a direita do que enfraquecê-la.

Para o governo, o dia não foi bom. Um Projeto de Decreto Legislativo, aprovado por 295 votos a favor e 136 votos contra, derrubou as mudanças feitas por Lula (PT) no Marco do Saneamento. Dois sinais. O primeiro, de que o governo não conta com uma base mínima de apoio. O segundo, que o mito outsider Bolsonaro ainda tem força e apoio no Parlamento.

Agora, resta ao governo Lula recolher os cacos e partir para a próxima. Em que termos, só o futuro dirá.

André Pereira César

Cientista Político

Alvaro Maimoni

Consultor Jurídico

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