Base? Que base? - Política - Hold

Base? Que base?

O recente debate parlamentar em torno do veto presidencial que congelou o reajuste salarial, por estados e municípios, até dezembro de 2021, trouxe à tona uma dura realidade para o Planalto - não existe, de fato, uma base mínima de sustentação ao presidente Jair Bolsonaro. Ao contrário, deputados e senadores seguem movidos por interesses pontuais, dificultando as estratégias governistas.

No caso do veto, o Senado Federal mandou o recado ao votar por sua derrubada. Aqui também ficou clara a ausência de comando do presidente da Casa, senador Davi Alcolumbre (DEM/AP), que não foi capaz de conter o movimento de seus pares, justamente na Casa mais alinhada às demandas do governo. Um sinal amarelo acendeu no Planalto.

Como resultado imediato, as lideranças da Câmara dos Deputados entraram em campo e conseguiram adiar em um dia a votação da matéria. Esse tempo extra foi fundamental para as negociações entre governo e bancadas. Ao final, os deputados mantiveram o veto.

Aqui são necessárias algumas considerações. Em primeiro lugar, o veto de Bolsonaro à possibilidade de reajuste dos servidores foi apresentado como uma contrapartida ao repasse de R$ 60 bilhões do governo federal para estados e municípios, com o objetivo de minimizar o impacto da crise decorrente da pandemia. O acordo foi colocado em risco pelos senadores.

Além disso, ficou clara a falta de tato político do governo na condução da crise. O ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a classificar a decisão do Senado como “um crime contra o país”, no que foi imediatamente rechaçado pelo mundo político, em especial o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ). As palavras do ministro ainda ecoam nos corredores do Congresso e podem gerar consequências num futuro muito imediato.

Por fim, fica igualmente evidente que a agenda econômica do ministro, como as emendas do ajuste fiscal e a reforma administrativa, entra na alça de mira. Qualquer medida impopular sofrerá forte pressão contrária entre os parlamentares.

Portanto, chega-se à conclusão de que nem o ingresso do Centrão no governo foi capaz de dar ao Titular do Planalto uma base sólida de sustentação. Indo além, é fato que ator político algum governa sozinho - seja ele o líder do Centrão, deputado Arthur Lira (PP/AL), o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP/PR), os presidentes das duas Casas ou o próprio presidente Bolsonaro. Somente uma ação conjunta e bem articulada evita crises como a gerada pelo veto à possibilidade de reajuste aos servidores.

André Pereira César

Cientista Político

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