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As eleições norte-americanas e o Brasil

As eleições de meio de mandato nos Estados Unidos da América (“midterms”) teriam impacto sobre o Brasil em qualquer contexto. Na atual conjuntura, porém, essa situação é potencializada. Lá, a disputa entre Joe Biden e o trumpismo ganha contornos dramáticos. Aqui, o processo de transição começa a dar forma ao futuro governo, em meio à mobilização contrária de grupos radicais.

Aos fatos. Hoje, a Câmara tem maioria Democrata - 220 cadeiras, contra 212 dos Republicanos. No Senado, que será renovado em 1/3, a situação é de igualdade, com 50 assentos para cada. No caso, o voto de desempate é da vice-presidente, a democrata Kamala Harris.

Também estão em disputa os governos de 36 dos 50 estados.

As pesquisas têm apontado cenários distintos, mas é praticamente certo que o Partido Democrata dificilmente manterá a maioria nas duas Casas. Pior, existe a real possibilidade de que os Republicanos assegurem o controle tanto da Câmara quanto do Senado. Nesse caso, o presidente Joe Biden enfrentará forte pressão na metade final de seu mandato, ao mesmo tempo em que Donald Trump iniciará o trabalho para retornar à Casa Branca em 2024 - por sinal, o ex-presidente deverá anunciar sua pré-candidatura nos próximos dias.

O eleitorado latino-americano, bastante numeroso, está sendo especialmente importante no atual pleito. Antes ligado ao Partido Democrata, esse contingente hoje se aproxima mais e mais dos Republicanos. Cubanos e venezuelanos expatriados ajudam a explicar o fenômeno, assim como a agenda mais conservadora da legenda de Trump, que contrasta com a pauta progressista de Biden e aliados, como a defesa do aborto e da descriminalização das drogas.

O fato é que, a exemplo do que ocorre aqui, os Estados Unidos estão absolutamente divididos. O crescimento do trumpismo, com seu discurso virulento e sua pós-verdade, agudizou esse quadro ao conquistar corações e mentes pelo país. Desde 2016, seu nacional-populismo é uma realidade incontestável e difícil de enfrentar.

Para o Brasil em transição, as eleições norte-americanas são ainda mais relevantes. Em situação de normalidade, as relações do presidente eleito Lula (PT) com Biden tendem a ser de harmonia e entendimento. Um Biden enfraquecido, porém, poderá mudar o foco e concentrar sua ação em questões internas, visando a sobrevivência política em 2024. O petista só tem a perder nesse cenário.

Além disso, um eventual triunfo dos Republicanos servirá de estímulo adicional para Jair Bolsonaro (PL) reforçar a mobilização de seus aliados mais fiéis. Trump efetivamente retornando ao cenário político será um sinal para o atual presidente manter sua estratégia de questionamento e crítica às instituições, que tanto agrada a seu eleitorado.

Make America great again, versão 2022/2024?

André Pereira César
Cientista Político

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