As articulações antes do feriado - Política - Hold

As articulações antes do feriado

Apesar da semana curta em virtude do feriado de Páscoa, em Brasília e nas entranhas dos partidos, as articulações políticas, como se viu, foram intensas. Vamos aos fatos.

Lula e o MDB - a reunião do ex-presidente Lula (PT) com caciques do MDB, ocorrida em Brasília na última segunda-feira, mostra que o petista, líder nas pesquisas de intenção de voto, segue em busca de aproximação com forças do centro da política. Entre os emedebistas, ele já conta com o apoio de lideranças como Renan Calheiros (AL), Geddel Vieira Lima (BA) e Eunício Oliveira (CE), todos da região Nordeste, mas precisa avançar no Centro-Sul do país. No encontro, o recado dos líderes foi claro - na campanha, Lula precisa destacar a economia (“bolso, bucho e democracia”, nas palavras de um líder presente ao encontro) e evitar temas espinhosos.

Riscos para a pré-candidatura Tebet - uma consequência imediata da reunião de lideranças do partido com Lula é um possível esvaziamento da pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MS). Sem contar com o apoio integral das lideranças emedebistas e com desempenho pífio nas pesquisas (1% das intenções de voto), ela não conseguiu ainda ganhar tração. Cabe lembrar que, historicamente, o MDB, quando lança candidato a presidente da República, não dá o suporte necessário e se divide - vide as participações de Ulysses Guimarães (1989), Orestes Quércia (1994) e, mais recentemente, Henrique Meirelles (2018). A história pode se repetir novamente.

Bivar tenta entrar no jogo - o desempenho sofrível dos nomes da chamada “terceira via” - agora “campo democrático” - está levando o União Brasil a trabalhar a pré-candidatura do presidente da agremiação, deputado Luciano Bivar (PE). De saída, há problemas para o movimento, sendo o principal deles a divisão interna - os líderes do antigo DEM, que se juntaram ao PSL para criar o União Brasil, são contra a candidatura de Bivar. O parlamentar, porém, ganha espaço no Congresso Nacional. O partido comandará as poderosas comissões de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e a Mista de Orçamento, ambas estratégicas em ano eleitoral.

CPI do MEC no radar - os partidos de oposição seguem enfrentando dificuldades para protocolar o requerimento de criação da CPI do MEC no Senado Federal. Inicialmente as 27 assinaturas necessárias haviam sido coletadas, mas alguns parlamentares próximos ao Planalto, após a liberação de emendas pelo governo, retiraram seus nomes. Nova ofensiva será realizada nos próximos dias, e duas alternativas são cogitadas - uma CPI na Câmara dos Deputados ou uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), envolvendo as duas Casas. O governo, porém, tem conseguido controlar as investidas em todas as frentes e o avanço das investigações no âmbito do Parlamento não será fácil.

O contra-ataque dos aliados - em resposta aos movimentos da oposição, a base aliada partiu para o contra-ataque. O líder do PL no Senado Federal, partido do presidente Jair Bolsonaro, Carlos Portinho (RJ), apresentou pedido para abrir uma CPI para investigar as obras que tiveram início entre os anos de 2006 e 2018. Neste período, o país estava sob a gestão dos petistas Lula (2003-2011), Dilma Rousseff (2012-2016) e do emedebista Michel Temer (2016-2018). O pedido já reúne 28 assinaturas, uma a mais que o mínimo necessário.

Denúncias em profusão - enquanto isso, pipocam no noticiário denúncias de ilícitos no governo. A Codevasf, estatal responsável pela promoção de obras de irrigação no semiárido, teria se transformado em uma empresa entregadora de obras de pavimentação e máquinas até em regiões metropolitanas; no ministério da Educação, além do imbróglio envolvendo pastores evangélicos, um suposto esquema de “escolas Fake” no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), comandado por um aliado do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), se alimentaria de recursos do orçamento secreto, e também a compra de kits de robótica com suspeita de sobrepreço de 420%; por fim, a aquisição de Viagra e próteses penianas pelo Exército criaram grande mal-estar na caserna. Material farto para a oposição tentar desconstruir a imagem de governo sem corrupção durante a campanha eleitoral.

Considerações finais - faltando menos de seis meses para o primeiro turno das eleições, os atores políticos aceleram seus movimentos, e o processo deverá ganhar ainda mais intensidade nas próximas semanas. O jogo segue indefinido.

André Pereira César
Cientista Político

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