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Acionado o sinal de alerta no PL

Maior bancada da Câmara dos Deputados, com presença igualmente relevante no Senado Federal e detentor da maior fatia do fundo partidário/eleitoral, em torno de R$ 1 bilhão, o PL tem objetivos ambiciosos para as eleições municipais do segundo semestre. No entanto, os últimos eventos ameaçam a meta originalmente estipulada, de conquistar cerca de mil prefeituras no país. Qual o futuro da legenda?

Aos números e aos fatos. O partido do ex-presidente Jair Bolsonaro tem hoje 96 deputados e doze senadores, o que inegavelmente mostra a força política da agremiação. No âmbito municipal, são 373 prefeituras nas mãos do PL - portanto, a expectativa de mil ao final do próximo pleito representa um salto exponencial.

Mas há obstáculos políticos no caminho. Em primeiro lugar, ao contrário de partidos como o PT, o PL carece de uma linha programática mínima. Na verdade, trata-se de uma espécie de “legenda ônibus”, que serve apenas de instrumento para políticos alcançarem seus objetivos próprios. Nesse sentido, a chamada janela de transferência, que ocorrerá entre março e abril, poderá registrar uma fuga de parlamentares para outras agremiações. A conferir.

Indo além, vários deputados do PL estão sendo investigados por delitos de todo tipo, inclusive por envolvimento com os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. A situação é delicada e até mesmo o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto - quase o “dono” da legenda, diga-se -, está na mira da Justiça.

Para piorar, depoimentos concedidos à Polícia Federal nos últimos dias podem tornar o quadro ainda mais dramático. Falamos aqui em especial do general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que por horas teria apresentado às autoridades detalhes da suposta “arquitetura golpista” do governo Bolsonaro. A fala do militar repercutiu mal entre aliados do ex-presidente. Freire Gomes está sendo fritado no meio.

Apesar dos recursos políticos e financeiros, o PL, dada a atual realidade, pode se tornar um pária para potenciais aliados. O exemplo maior está em São Paulo, onde o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tentará a reeleição, está repensando a possibilidade de indicar um integrante do partido de Bolsonaro na vice. A situação tende a se repetir em outras cidades.

Por fim, Costa Neto deve olhar com atenção o que está ocorrendo no União Brasil. A legenda afastou o “eterno” presidente, Luciano Bivar, do comando da executiva nacional, em um movimento que pode ser qualificado como uma espécie de golpe.

Em 2018, na eleição de Bolsonaro, o antigo PSL foi o grande vencedor do pleito. Em pouco tempo, o partido desidratou e, ao final, em busca de uma sobrevivência política para não voltar a ser um partido nanico, fundiu-se ao DEM para se tornar o atual União Brasil.

Já se sabe que o grupo de políticos do PL mais radicalizados e umbilicalmente ligados à família Bolsonaro está se movimentando para a tomada do controle de partido. Pavimentando esse caminho está o próprio Bolsonaro, firme no trabalho de filiação de diversos prefeitos ao PL para disputa das próximas eleições.

Na política, o apadrinhamento e vinculação ao “padrinho” é muito mais forte do que a própria filiação partidária. E, como já dito, por se tratar o PL de um partido sem conteúdo programático, a legenda pode vir a sofrer uma debandada aos modos do já observado no antigo PSL quando, a mando de Bolsonaro, que havia rompido com Luciano Bivar, viu diversos filiados migrarem justamente para o PL.

Agora, estaria o PL seguindo o mesmo caminho?

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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