A terça-feira, 4 de janeiro, teve dois eventos carregados de forte simbolismo político, com as posses de Geraldo Alckmin no ministério de Indústria e Comércio e de Marina Silva no Meio Ambiente. No entanto, as declarações do senador Jean Paul Prates (PT/RN), indicado para a presidência da Petrobras, de certa forma ofuscaram os demais fatos. A questão dos combustíveis, afinal, tem forte impacto sobre a população e a economia.
Em linhas gerais, o novo comandante da estatal afirmou que não haverá intervenção nos preços da companhia, que serão de alguma forma vinculados ao mercado internacional. Indo além, Prates afirmou que a empresa cumpre o que governo e mercado “criam de contexto - principalmente o mercado, se sobra produto, se falta produto”.
Ele é favorável a uma espécie de “colchão de amortecimento” para os preços, com o objetivo de evitar impactos inflacionários mais elevados sobre os combustíveis. Como se dará isso, ainda não está claro.
Cabe lembrar que o presidente Lula (PT) manteve por sessenta dias a desoneração dos combustíveis, ao contrário do que foi pregado durante a campanha e na contramão do que defendia o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A medida provisória será votada pelo Congresso Nacional e pode inclusive ter esse prazo ampliado. Vitória da chamada “ala política” do governo.
Em meio a incertezas do mercado com relação à política econômica, a fala do presidente da empresa até que caiu bem. Após uma sequência de quedas, o Ibovespa subiu 1,12%, puxado pelas ações da Petrobras (alta de 3,18% dos papéis PN e 1,67% dos ON).
A eventual privatização da empresa, um antigo sonho do mercado que volta e meia retorna ao debate, está totalmente descartada, ao menos na atual gestão. O presidente Lula jamais cogitou de tal possibilidade.
Em resumo, uma queda de braço em torno da política de preços da Petrobras se desenha no horizonte. O futuro presidente da estatal sabe que enfrentará forte pressão de todos os lados. Dada sua experiência no setor, espera-se que seja capaz de conter as demandas. Tarefa no mínimo espinhosa.
André Pereira César
Cientista Político
