A montagem de uma frente ampla  - Política - Hold

A montagem de uma frente ampla 

Engana-se quem pensa que, definidos os ministros, secretários executivos e presidentes de estatais, o novo governo está devidamente montado. Ao contrário, há muitos cargos de segundo e terceiro escalões aguardando definição. São postos importantes dentro da chamada “frente ampla”.

Em primeiro lugar, partidos que apoiaram a candidatura de Lula (PT) desde o início, como o PV e o Solidariedade, ainda não foram contemplados. Para além de mágoas e sentimentos de injustiça, essas legendas esperam agora espaço efetivo na nova administração. O petista deve focar nesse ponto agora.

Um exemplo de cargo cobiçado é a presidência da Funasa, órgão com forte presença nos estados, força política e orçamento robusto. O problema é que Lula publicou ato extinguindo a entidade, o que gerou imediata reclamação geral de aliados. Resta saber se o titular do Planalto manterá a decisão ou recuará, visando atender sua base.

Interessante notar que o presidente da República cedeu espaço a novos aliados, que a princípio não estavam integrados à campanha. Entram aqui em especial o PSD do curinga Gilberto Kassab (integrante do governo paulista de Tarcisio de Freitas, por sinal) e o União Brasil, que tem em suas fileiras muitos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e se considera “independente” apesar de ter em mãos três ministérios. Tudo em nome de uma suposta governabilidade.

Outro ponto relevante diz respeito ao sócio principal do condomínio governista, o PT. O partido do presidente, que já ocupa postos estratégicos como a Fazenda e a Casa Civil, defende que as pastas nas mãos de outras legendas não sejam de “porteira fechada” - ou seja, petistas já trabalham para ter espaço nesses ministérios.

Com tantos partidos, caciques e interesses distintos, não será tarefa fácil o trabalho de composição final do governo. Ao presidente Lula será necessária muita habilidade para conduzir esse processo. Futuras insatisfações são praticamente inevitáveis.

Por fim, a distribuição de cargos terá impacto direto sobre a base do governo no Congresso Nacional. Por ora, a situação é de indefinição, e sabe-se que a agenda parlamentar será complexa, com muitas proposições politicamente delicadas em pauta. As próximas semanas serão decisivas para a nova administração.

André Pereira César
Cientista Político

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