A esquerda em busca de um norte - Política - Hold

A esquerda em busca de um norte

O retorno do ex-presidente Lula à cena política confirmou um fato importante para os destinos do país: a esquerda segue dividida e enfrentando dificuldades para estabelecer um diálogo mínimo. Partidos e grupos distintos brigam por espaço, criando obstáculos para qualquer entendimento.

Comecemos pelo PT, a principal força da esquerda. Hegemônica por natureza, a agremiação não dá mostras de que aceitará ceder terreno para outros partidos. Ele até concorda em compor, desde que seja o cabeça de chapa. Em seus primeiros discursos e falas após deixar a carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR), o próprio Lula deixou isso bastante claro.

A polarização do debate entre o petista e o presidente Jair Bolsonaro alimenta esse quadro. Dadas as informações do Governo de um possível aumento do PIB para o próximo ano, aliadas ao fato de que pelo sétimo mês consecutivo as contratações formais superaram as demissões no país, o PT passou a centrar fogo no ministro Paulo Guedes e na sua política “ultraliberal”, no aumento da desigualdade no Brasil e na ainda alta taxa de desemprego, em torno de 12%.

Com isso, outras siglas de esquerda relevantes, como o PDT e o PSB, seguem procurando espaço e agenda próprios, distantes do petismo. Para as eleições municipais de 2020, já se cogita a aproximação com partidos mais ao centro, inclusive com o PSDB e o DEM, tradicionais adversários. Essa aproximação, com a possibilidade de estabelecimento de alianças para o pleito do próximo ano, se daria ao menos em algumas capitais e municípios estratégicos. Importante ressaltar que as eleições municipais serão fundamentais para a sucessão presidencial de 2022.

Por fim, o petismo segue ligado a alguns “partidos-satélites”, em especial o PCdoB, um velho e fiel parceiro. Nada de novo nesse front. Cabe lembrar que, em 2018, os comunistas ensaiaram o lançamento de uma candidatura presidencial própria, com a ex-deputada Manuela d’Ávila, mas acabou recuando e compondo chapa com o candidato do PT, Fernando Haddad. A novidade é a tentativa de atrair o PSOL para esse espectro. Discute-se uma possível aliança com Guilherme Boulos para a prefeitura de São Paulo.

Em suma, é necessário que a esquerda revise algumas diretrizes e estabeleça uma agenda consistente, estando as agremiações alinhadas ou não. Do contrário, as forças de direita, com o apoio dos partidos do “Centrão”, seguirão dando as cartas e comandando o jogo, impondo novas derrotas ao PT e aos demais partidos da esquerda. Lula, sozinho, dificilmente conseguirá reverter essa realidade.

André Pereira César
Cientista Político

Comments are closed.