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2022, modo de usar: eleições

Para além da sucessão presidencial, as eleições nos estados e as disputas para a Câmara dos Deputados e Senado Federal serão de fundamental importância para os destinos do país. O jogo será bruto em todas as frentes.

Nos estados, a formação de palanques é estratégica para todos, inclusive e principalmente para os candidatos a presidente. Alianças sólidas são condição sine qua non para quem tem reais pretensões de vitória. Falaremos rapidamente sobre seis disputas.

Em São Paulo, a hegemonia do PSDB, que comanda o estado desde 1995, corre sério risco. O governador tucano João Dória deverá disputar a presidência da República, e o atual vice, Rodrigo Garcia (PSDB), será o candidato da situação. Pouco conhecido da população, ele enfrentará uma esquerda fortalecida - Fernando Haddad (PT), Márcio França (PSB) e/ou Guilherme Boulos (PSOL). Também a direita estará no processo, provavelmente com Tarcísio Freitas, candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL). A grande incógnita é o ex-governador Geraldo Alckmin, hoje sem partido, que não descarta a possibilidade de retornar ao Palácio dos Bandeirantes.

No Rio de Janeiro, o atual governador, Cláudio Castro (PL), tentará a reeleição contando com o apoio de Bolsonaro. A esquerda será representada pelo deputado Marcelo Freixo (PSB), que tem chances reais de êxito. A disputa será polarizada.

Em Minas Gerais, o governador Romeu Zema (Novo) também tentará a recondução, mas sem o apoio do presidente - ele tem se afastado de Bolsonaro. Ele deverá enfrentar o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), que busca se aproximar do ex-presidente Lula (PT). A disputa não tem favorito, por ora.

Na Bahia, o ex-prefeito ACM Neto (DEM) enfrentará o senador Jaques Wagner (PT) e o ministro João Roma (Cidadania), que tenta vincular seu nome ao programa Auxílio Brasil. O petista é, em tese, o favorito, mas a eleição baiana tende a ser das mais acirradas do país.

Em Pernambuco, um entendimento entre o PT e o PSB, caso confirmado, deixará a esquerda com condições reais de vitória. Nada está definido, no entanto. A deputada Marília Arraes (PT) trabalha para ser a candidata, mas os socialistas têm restrições a seu nome e defendem o ex-prefeito Geraldo Júlio (PSB). Essa divisão interessa ao nome do DEM, Miguel Coelho, filho do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB).

A sucessão gaúcha será igualmente uma das mais disputadas. O ministro Onyx Lorenzoni (DEM) e o senador Luís Carlos Heinze (PP) lutam pelo apoio de Bolsonaro, enquanto o PT lançará o deputado estadual Edegar Pretto. Todos contra o governador Eduardo Leite (PSDB), que faz uma gestão bem avaliada e ganhou projeção nacional durante as prévias tucanas.

Para o Senado Federal, estarão em jogo 27 cadeiras, 1/3 do total - uma vaga por estado. Nomes de peso da política nacional, como o governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), e seu colega baiano Rui Costa (PT), são favoritos a ingressar na Casa. Cabe lembrar que o Senado se tornou, nos últimos tempos, uma frente de resistência às políticas negacionistas do Planalto. Essa tendência pode ser reforçada a partir de 2023. Por isso a insistência do presidente Bolsonaro na escolha dos 27 candidatos do PL ao Senado. Ele sabe que precisa de uma boa base para conseguir fazer avançar as pautas do governo.

Os principais interesses dos partidos, no entanto, estarão na Câmara dos Deputados. A razão é simples - quanto maior a bancada eleita, mais recursos dos fundos Eleitoral e Partidário serão destinados às legendas. Mais ainda, as lideranças sabem que a onda da “nova política”, forte em 2018, não se repetirá em 2022. Candidatos com perfil mais “profissional” deverão ser a tônica do pleito que se aproxima.

Por fim, o instituto das federações partidárias talvez seja a grande novidade das eleições desse ano. Pelo novo instrumento, partidos podem atuar de maneira unificada em todo o país, por um período de pelo menos quatro anos, como forma de teste para eventual fusão ou incorporação. PT e PSB avaliam a possibilidade de se juntarem, bem como PSDB e Cidadania.

Em suma, as eleições de 2022 terão múltiplas variáveis. Uma nova configuração da política brasileira se desenha no horizonte.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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