2021, MODO DE USAR: POLÍTICA - Política - Hold

2021, MODO DE USAR: POLÍTICA

A princípio, o ano que se inicia será uma continuidade de 2020, com todo seu drama. Aumento expressivo no número de vítimas da COVID-19, desemprego elevado e crescimento econômico pífio já se desenham no horizonte. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deverá continuar a se utilizar das redes sociais para motivar seus apoiadores e para atacar seus adversários, em especial a imprensa, os governadores e a oposição em geral. Será mais um ano difícil, onde a resiliência de todos será novamente posta à prova.

Governo Bolsonaro - o titular do Planalto ingressa na segunda metade de seu mandato com dois objetivos explícitos - reeleger-se em 2022 e barrar todos os processos contra seus filhos. No primeiro caso, serão fundamentais as vitórias de seus candidatos na disputa pelo comando do Congresso Nacional, no início de fevereiro, e a reforma ministerial prevista para logo após a definição do comando do Parlamento. No caso dos familiares de Bolsonaro, o jogo será o mesmo - blindagem a qualquer custo, não importando os métodos e a repercussão dessas ações junto à opinião pública.

Vacinação/Covid - a disputa política em torno da vacinação da população contra a COVID-19 atingirá seu ápice nas próximas semanas. O governo federal, em especial o ministério da Saúde, segue atuando de maneira errática. Depois de criticar o governo paulista pela associação deste com um laboratório chinês, o Planalto anunciou que comprará milhões de doses do Instituto Butantã, numa radical mudança de rota.

Os estados e os municípios, por seu turno, tentam estabelecer, a próprio modo, cronogramas mínimos para atender a população. Por ora, no entanto, pouco há de concreto. O país segue na expectativa.

Governos estaduais - novos lances do embate entre diversos governadores e o presidente Bolsonaro serão registrados em 2021. Além da disputa pela vacinação contra a COVID-19, outros elementos alimentarão essa situação, entre elas a crise econômica e a agenda de costumes do Planalto, criticada por boa parte dos chefes dos Executivos estaduais. Por último, o apoio do presidente a projetos que limitam o poder dos governadores sobre as polícias civil e militar deverá gerar uma nova frente de conflito.

Governos municipais - os recém-empossados prefeitos terão um ano de dificuldades extremas. A queda na arrecadação decorrente da pandemia esvaziou ainda mais os já combalidos cofres municipais. Some-se a isso a crescente demanda da população por serviços públicos, em especial na área da saúde, e chega-se a um quadro caótico. A pressão das prefeituras sobre o governo federal deverá aumentar a curto e médio prazos.

Sucessão no Congresso Nacional - na prática, o ano se inicia com a definição das Mesas Diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Trata-se de um embate entre o Planalto e as oposições. Na Câmara, a candidatura de Arthur Lira (PP/AL) conta com o apoio de Bolsonaro, enquanto Baleia Rossi (MDB/SP) representa o grupo de Rodrigo Maia (DEM/RJ). A posição dos partidos de esquerda será decisiva no processo.

No Senado, por ora, a candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM/MG), que conta com a simpatia do presidente da República, é a mais forte. A entrada do MDB no jogo, porém, poderá alterar esse quadro.

Reformas - no âmbito da agenda do Congresso, as reformas deverão seguir em banho-maria. As discussões em torno da reforma tributária serão retomadas sem a perspectiva de um consenso mínimo que viabilize sua votação. A administrativa, por sua vez, continuará em segundo plano, refém da falta de empenho do Executivo e dos parlamentares. A rigor, o Congresso deverá focar suas atividades, mais uma vez, na pauta emergencial de combate à COVID-19 e seus efeitos.

Sucessão presidencial - a antecipada sucessão presidencial de 2022 deverá ganhar ainda mais espaço na cena política ao longo do ano. De um lado, o presidente Bolsonaro trabalhará no sentido de reforçar suas bases - seu maior desafio será manter os atuais índices de popularidade. De outro, as oposições buscarão nomes capazes de agregar os diferentes grupos políticos, da esquerda à direita. Entre os potenciais pré-candidatos estão o governador João Dória (PSDB/SP), os ex-ministros Ciro Gomes (PDT/CE) e Sérgio Moro (sem partido) e o apresentador Luciano Huck (sem partido). Outros nomes, hoje fora do radar, deverão surgir no decorrer do processo.

André Pereira César

Cientista Político

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