2019: modo de usar - Hold

2019: modo de usar

Bolsonaro: a chegada de Jair Bolsonaro ao Planalto marca o início de um novo ciclo político. O presidente, apesar da longa experiência como deputado federal, ainda terá que se adaptar ao cargo. As declarações polêmicas dos últimos dias deverão se repetir, e os assessores mais graduados estarão atentos para colocar panos quentes sempre que necessário. Isso porque as repercussões de uma declaração mal dada pelo Presidente da República são diretas e imediatas (vide a queda das ações da Embraer na última sexta-feira, por exemplo). Bolsonaro terá rapidamente ser adaptar à nova realidade, pois as consequências da manifestação de um Presidente da República são infinitamente maiores do que as de um deputado federal.

Medidas de impacto serão apresentadas e a opinião pública, em um primeiro momento, deverá apoiar o presidente.

O novo Congresso: o Congresso Nacional que será empossado em fevereiro resultará, em tese, no mais conservador desde a redemocratização. Fragmentado e com muitos atores novos, o Parlamento terá intensa atividade. Destaque especial para o PSL, partido de Bolsonaro, que de nanico passou à segunda maior bancada da Câmara dos Deputados.

Relação Bolsonaro - Congresso: um dos principais desafios de Bolsonaro será negociar com o Congresso. Para isso, ele terá que ter uma base sólida e numerosa e, mais ainda, contar com o apoio dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também terá papel de destaque nessas negociações.

Governos estaduais e assembleias: os novos governadores e os deputados estaduais têm à frente um duplo desafio - sanear as combalidas finanças dos estados e, ao mesmo tempo, investir em segurança pública. Não será tarefa fácil, em especial para os estados em pior situação fiscal, como o Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Atenção especial para o governador de São Paulo, João Dória (PSDB). Ele já é a principal liderança de seu partido e deverá usar o Palácio dos Bandeirantes como plataforma para as eleições presidenciais de 2022.

Agenda econômica: a agenda econômica terá papel central no governo Bolsonaro. Partindo das reformas da Previdência e tributária e passando pelas privatizações, o tom será liberalizante. Medidas de "destravamento" da economia que não necessitem passar pelo Congresso serão anunciadas no curto prazo.

Operação Lava-Jato: com Sérgio Moro no comando da Justiça, o futuro da Lava Jato está garantido. A operação deverá ganhar força, com mais recursos e pessoal voltado especificamente para o combate à corrupção.

Oposição: os partidos de oposição passarão os próximos meses se adaptando ao novo quadro político. O PT trabalhará para manter a hegemonia na centro-esquerda, mas outras agremiações, como o PDT e o PSB, tentarão ocupar mais espaço. Novas lideranças deverão surgir.

Redes sociais e imprensa: o ano será decisivo para a chamada mídia tradicional, que vem perdendo prestígio junto à opinião pública. Os principais jornais e revistas enfrentam agora a concorrência das redes sociais, que se tornaram importante fonte de informação. O presidente Bolsonaro, bem ao estilo Trump, tem se utilizado das novas mídias para anunciar medidas de seu governo.

Pelo mundo: estão previstas eleições em diversas partes do planeta. Em outubro, a Argentina irá às urnas, com o presidente Maurício Macri tentando a reeleição. Antes, haverá eleições para o Parlamento Europeu (maio), Índia e Israel (ambas em abril).

Também será importante acompanhar as investigações contra o presidente Donald Trump e o resultado final do Brexit. São questões que inevitavelmente impactam no Brasil.

André Pereira César
Cientista Político

Texto publicado em 07/01/2019.

Comments are closed.