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Sobre os simbólicos 100 dias

Essa segunda-feira, 10 de abril, marca os cem dias do governo Lula (PT). Para além do simbolismo da data, é necessário realizar um balanço equilibrado da atual gestão, sem paixões ou vieses.

Em primeiro lugar, é preciso olhar o quadro geral do Brasil antes da posse. Um país abandonado, o retrato do governo de Jair Bolsonaro (PL) - um pária global, situação justificada pelo antigo governo por conta da pandemia.

No entanto, não se pode explicar os atuais erros olhando-se o passado recente. Os possíveis equívocos de agora têm origem única e exclusivamente no governo de plantão.

Aos fatos. No plano da economia, as dúvidas sobre o novo arcabouço fiscal, a reforma tributária em discussão e a guerra do Planalto contra o Banco Central por conta da alta taxa de juros contaminam o ambiente e dificultam a recuperação de um país destruído, depois de quatro anos de desmonte. É evidente que o quadro geral, com o conflito na Ucrânia e as tensões globais não facilitam, mas a busca da distensão interna ajudaria a amenizar a situação.

Há ainda outras questões, como o embate entre a Câmara dos Deputados e o Senado Federal em torno da tramitação das medidas provisórias, que afeta diretamente o governo. A disputa por poder (na indicação de cargos, por exemplo) e questões regionalizadas - a briga pelo comando do estado de Alagoas entre Arthur Lira (PP) e Renan Calheiros (MDB) – contaminam o ambiente e reverberam no andamento dos interesses do governo no Congresso Nacional. No limite, ao final dessa pequena batalha travada no Parlamento, o Planalto poderá ficar refém do todo-poderoso Arthur Lira, talvez o político mais influente do Brasil hoje.

Problemas não faltam. Apesar do centralismo de Lula, ministros têm falado muito. O da Previdência, Carlos Lupi (PDT), defendeu a revisão da reforma na área, enquanto o de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), gerou uma crise ao questionar a política de preços da Petrobras. Situações que, com mais diálogo interno, poderiam ser evitadas.

Por outro lado, é inegável que o Brasil retomou o protagonismo no cenário internacional. O Mercosul colocou-se novamente à mesa, e o país voltou a integrar a Unasul, bem como as conversas com os Estados Unidos da América e a China e a retomada do Fundo Amazônia. O exemplo mais acabado dessa nova realidade foi o convite para o país participar da reunião do G7, que ocorrerá em maio no Japão. O velho prestígio parece estar de volta.

Enfim, os eventos dramáticos de 8 de janeiro, o “Capitólio tupiniquim”, estão superados. Se houve ali uma tentativa de golpe, os três Poderes se uniram e viraram o jogo. Passados cem dias da posse, o governo Lula ainda tem muito a apresentar. Sem ilusões, sem lua de mel.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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