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Primeiros 100 dias do governo Lula: a quarta semana

A quarta semana do novo governo deixou mais claros o estilo da administração e o tamanho dos desafios. Problemas de elevada gravidade se acumulam e focos de crise aqui e ali precisam ser controlados.

Lula na Argentina e no Uruguai - em sua primeira viagem internacional, o presidente Lula (PT) mostrou-se disposto a assumir o papel de principal liderança política da região. Uma contradição em seu discurso, porém, chamou a atenção. De um lado, ele defendeu de maneira veemente (como devia fazer, aliás) a democracia, lembrando os recentes ataques a Brasília. De outro, saudou regimes tidos como ditatoriais (Cuba e Venezuela), gerando ruídos desnecessários. Nesse início de gestão, o presidente brasileiro precisa evitar polêmicas.

Moeda comum - o debate em torno da moeda comum entre Brasil e Argentina mostrou que o novo governo tem sérios problemas de comunicação. Na verdade, o assunto começou a ser discutido já nos anos oitenta do século passado, nas gestões Sarney e Alfonsin, sem registrar avanços. O que se tenta agora é estabelecer um estudo que aponte a viabilidade da medida, que levaria anos para ser implementada.

BNDES financiando países da América Latina - economistas e oposição criticaram duramente a possibilidade do BNDES voltar a financiar obras em países vizinhos. Na verdade, a instituição banca a exportação de serviços de empresas brasileiras, o que, para parcela da opinião pública, traz a memória da Lava Jato e as empreiteiras envolvidas no escândalo. Cabe ressaltar que o BNDES levou calote de alguns países - dinheiro que não deverá receber. Munição desnecessária aos adversários e críticos do governo.

Reunião com governadores - foi positivo o saldo da reunião do presidente com os 27 governadores. Adotando uma postura pragmática, ele defendeu uma grande parceria, independente de partidos ou posições ideológicas. Os chefes de governo estaduais gostaram do que ouviram e deverão apresentar ao Planalto, em breve, suas listas de prioridades, que não serão poucas.

Crise yanomami - a tragédia humanitária do povo yanomami, em Roraima, é uma realidade inegável, apesar dos bolsonaristas afirmarem que tudo não passa de Fake News. Fome e desnutrição, doenças de todo tipo, morte em massa de crianças e mulheres, a situação é desesperadora. Resta saber quem são os responsáveis pela situação para punir com rigor. Em pleno século XXI, a palavra “genocídio” voltou ao debate.

Pacote da segurança pública - não foi bem acolhido o pacote de medidas apresentado pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, que pretende endurecer a legislação sobre crimes contra o Estado Democrático de Direito. Na avaliação de muitos, as propostas têm um tom de censura e, mais ainda, tratam de temas que já estão previstos em lei, sendo, portanto, inócuos. As chances de serem aprovadas pelo Congresso Nacional são reduzidas.

Bolsonaro nos Estados Unidos - enquanto aumenta a pressão de seu partido, o PL, para que seja expulso, o ex-presidente Jair Bolsonaro segue nos Estados Unidos. Segundo o senador Flávio Bolsonaro (PL/RJ), seu pai poderá ficar por mais seis meses ou até mesmo “para sempre” naquele país. É certo que o ex-mandatário teme a Justiça brasileira, e não sem razão.

Considerações finais - sinais ambíguos estão sendo emitidos pelo governo, em especial no campo econômico. A falta de clareza sobre os rumos da economia aumenta a cautela dos investidores, travando projetos. Há um sentimento de urgência no ar.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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