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Política externa em foco – o Brasil de volta ao mapa

Uma das promessas de campanha do presidente Lula (PT) era retomar o protagonismo do Brasil no cenário mundial. De fato, os primeiros dois meses do novo governo mostram a chamada diplomacia presidencial em plena atividade, e esse quadro seguirá ao menos a curto e médio prazos.

Assim, às já realizadas viagens à Argentina, Uruguai e Estados Unidos se somarão as visitas à China e a países africanos. Também conversas com lideranças globais como o ucraniano Volodymyr Zelensky e o Rei Charles III mostram um presidente focado na retomada de negociações interrompidas nos últimos quatro anos.

Soma-se a esses fatos a proposta feita pelo presidente brasileiro para a criação de um grupo de países não envolvidos na Guerra da Ucrânia para tentar mediar uma saída pacífica para o conflito. Boas notícias, sem dúvida.

Então, a política externa do novo governo tem um saldo totalmente positivo? A resposta é “não”. Certas posições e atitudes da gestão Lula têm gerado críticas, ruídos e incômodo não só no plano interno, mas também entre países próximos ao Brasil.

Tome-se, por exemplo, a questão da Nicarágua. Recentemente, o Brasil se recusou a acompanhar os mais de cinquenta países que denunciaram, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, a prática de crimes contra a humanidade pelo governo de Daniel Ortega. A posição brasileira foi mal recebida pela comunidade internacional, como era de se esperar. Nesse caso, trata-se da tentativa de se proteger um “ditador “amigo”? Nem mesmo a proposta do governo de receber dissidentes nicaraguenses aliviou para Lula.

Igualmente, a presença de dois navios de guerra iranianos no Porto do Rio de Janeiro foi considerada “provocação” pelo governo norte-americano, que foi seguido por Israel na crítica. Inclusive, integrantes do Partido Republicano chegaram a esboçar uma discussão sobre possíveis sanções ao Brasil. Questão delicada, como se vê, que colocou o país em uma saia justa.

Por fim, o presidente Lula não é um entusiasta da adesão do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o chamado “clube dos países ricos”, que estava na agenda do governo de Jair Bolsonaro (PL). Para o presidente, a prioridade é fortalecer outros órgãos multilaterais, como o Mercosul, tanto que o governo Lula reduziu os cargos da equipe brasileira junto à OCDE em Paris. O novo posicionamento do país não foi bem recebido por diversos setores da economia, que enxergam nesse fórum um ótimo espaço para o crescimento do país.

É do conhecimento geral que Lula pleiteia um assento no Conselho de Segurança da ONU para o Brasil. No âmbito da política externa. Esse seria o pote de ouro no final do arco íris para o titular do Planalto. Para ter alguma chance de atingir esse objetivo, o governo não pode cometer erros em suas relações com os outros países, em especial os mais alinhados com os interesses brasileiros.

André Pereira César

Cientista Político

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