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O jogo político de Zema

A exemplo do hoje paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), o governador mineiro Romeu Zema (Novo) também trabalha para viabilizar seu nome na sucessão presidencial de 2026. Não será tarefa fácil, porém. Muitos obstáculos estão em seu caminho.

Oriundo de família de negociantes, o atual comandante de Minas Gerais é administrador e também empresário de sucesso. Zema é um “cristão novo” na política. Eleito governador pela primeira vez em 2018, na sua primeira disputa eleitoral, na onda da chamada “nova política” que levou Jair Bolsonaro (PL) ao Planalto e trouxe novos atores ao Congresso Nacional, ele agora tenta nacionalizar seu nome. Apesar de ter vencido as eleições no primeiro turno para um segundo mandato, na disputa contra o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), que contava com o apoio do então candidato Lula (PT) e do todo poderoso presidente do PSD, Gilberto Kassab (que atualmente integra o governo de São Paulo ao lado de Tarcísio), ainda tem muita água para remar.

Em busca de se fazer conhecido, utiliza a velha tática de polemizar. Por governar um dos mais importantes estados brasileiros, tudo que fala ou faz, ganha quase que instantânea repercussão. Ele acumula polêmicas e gafes, que vão desde citação a ditador até menção à Inconfidência Mineira como um “golpe”. O governador mineiro já compartilhou mensagens nas redes sociais ou em discursos que são alvos de críticas dos mais moderados e daqueles que não integram esse bolsão de eleitores mais redicalizados.

Recentemente, um dia após o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o tornou inelegível, Zema publicou uma frase atribuída a Benito Mussolini - “Fomos os primeiros a afirmar que, quanto mais complexa se torna a civilização, mais se deve restringir a liberdade do indivíduo”, dizia o texto postado em seu story no Instagram ao lado da legenda de “bom dia”.

A seguir, Zema defendeu uma espécie de consórcio entre os estados do Sul e do Sudeste para fazer frente ao Norte/Nordeste, para reorganizar a distribuição de recursos no país. Uma colocação desastrosa, ao menos para quem tem pretensões nacionais. Caso do governador mineiro.

Para finalizar, no último dia 28 de agosto, Zema condecorou o ex-presidente Bolsonaro com o título de cidadão honorário de Minas Gerais. Um verdadeiro vale-tudo na corrida pela conquista dos votos desses eleitores mais radicais. Uma espécie de “estou com o capitão e não abro, por isso, votem em mim.”

Afinal, o que quer Romeu Zema? Algumas pistas já foram dadas, como a de tentar ser um herdeiro do bolsonarismo, uma espécie de novo nome no espectro da ultradireita brasileira. No entanto, faltam a ele carisma e capacidade de aglutinar nomes de peso ao seu redor. Se mostrar fiel ao bolsonarismo e tudo o mais que o cerca, talvez não seja suficiente. Mais ainda, seu partido, o Novo, não tem a mínima estrutura para dar suporte a uma campanha presidencial. Minas é Minas, Brasil é Brasil.

De todo modo, essa nova direita mais radicalizada que ainda vive, busca nomes para substituir o hoje inelegível Bolsonaro, e Zema se coloca como uma opção. Terá capacidade e força política? As eleições municipais de 2024 talvez deem uma resposta. Se conseguir ampliar a sua base em Minas e na direita como um todo a nível de Brasil, talvez o projeto “Zema 2026” possa começar a ganhar corpo.

Na pesquisa de opinião mais recente da Genial/Quaest, a gestão do governador de Minas Gerais é aprovada por 59% dos eleitores do estado, contra 32% dos que desaprovam a atual administração, e de 9% que não souberam ou não quiseram responder.

A pesquisa revelou, ainda, que até mesmo eleitores que votaram em Lula no segundo turno, aprovam o atual governador Zema. São 46% desse eleitorado.

Por fim, importante dizer que a disputa pelos votos bolsonaristas está sendo levada tão a sério, que tanto Tarcísio quanto Zema estão evitando o máximo que podem tornar públicos quaisquer registros ao lado de Lula e/ou ministros do governo. Tudo para evitar qualquer tipo de exploração política nas próximas eleições.

A boa avaliação de seu governo, no entanto, será suficiente para elevar Zema ao próximo nível? Perguntas para o também virtual candidato à presidência Tarcísio, para os filhos do capitão e para todos os outros que surjam no caminho até o pleito de 2026.

André Pereira César

Cientista Político

Alvaro Maimoni

Consultor Jurídico

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