O jogo político de Tarcísio - Linha de Pensamento - Hold

O jogo político de Tarcísio

Quase um neófito na política, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), começa a acumular problemas em sua gestão. Na verdade, o que se vê é um administrador perdido no mundo da realpolitik, ainda tentando entender as regras desse jogo por vezes bruto. Em suma, ele ainda está aprendendo a dançar.

É inegável que o currículo e a experiência de Tarcísio são bons. Foi diretor do poderoso Dnit no governo petista de Dilma Rousseff, ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro (PL), com formação pela Academia Militar das Agulhas Negras, além de ter sido consultor no Congresso Nacional. Apesar desse histórico, a questão que se coloca aqui é outra. Integrar o Poder Executivo federal como um administrador é muito diferente de comandar o Poder Executivo do estado mais rico e populoso do país. Não à toa, Tarcísio tem reclamado publicamente que todos os seus atos à frente do governo paulista têm repercussão nacional. De fato, ainda não achou o seu lugar no salão de dança da política.

Voltando à abertura do artigo, os problemas se acumulam por conta da inépcia política do governador. Toma atos de gestão que, após críticas de todos os lados, volta atrás, numa espécie de tentativa e erro. Pior, ele é um tipo de cristão-novo em São Paulo, estado que pouco conhecia até entrar na disputa eleitoral em 2022. O reduzido entendimento dos problemas da região é um fato. Aliás, boa parte do êxito obtido nas urnas pode ser atribuído ao antipetismo local, em especial no interior, no chamado corredor da Anhanguera - além da força do bolsonarismo na região, é claro.

O quadro atual está repleto de exemplos. Dois, em especial, sintetizam a realidade aqui exposta. Em Guarujá, na Baixada Santista, a irresponsável e desastrosa ação da polícia resultou em uma chacina, com ao menos dezesseis mortos no final de julho. Tarcísio saiu de imediato em defesa da “operação”, afirmando que não houve excesso por parte da corporação. Como pano de fundo do evento, a posição dúbia do governador com relação às câmeras que os policiais deveriam usar para registrar seus atos alimentou a tragédia. Saldo negativo para o governador.

O segundo imbróglio exemplar está em uma das áreas mais sensíveis de qualquer administração, a educação. Empresário do ramo, o secretário estadual, Renato Feder, está sendo investigado pelo Ministério Público por conflito de interesse em contratos firmados pela pasta com uma empresa da qual ele é acionista. Além disso, o mesmo MP investiga a decisão do governo paulista de não aderir ao material didático e pedagógico do Programa Nacional de Livros Didáticos do ministério da Educação, para alunos da rede estadual do 6º ano em diante, a partir de 2024. Resumindo, o secretário se tornou um auxiliar-problema - um nó político que Tarcísio não consegue desatar.

Outras questões pululam. A proposta de anistia da multa a quem não usou máscara durante a pandemia (claramente para beneficiar o multado Bolsonaro); a questão do ingresso de seu partido na base de sustentação do governo Lula (PT), que pode levá-lo a buscar outra legenda; a definição do novo ministro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que está colocando em lados opostos o governador e Bolsonaro. Enfim, a Tarcísio falta o ferramental político básico, ou como se diz no jargão popular, falta jogo de cintura.

Opção clara para o eleitorado de direita, dado o fato de que todo governador de São Paulo é, em tese, um virtual candidato à presidência da República, ainda mais após a inelegibilidade de Bolsonaro, o governador paulista tem dois caminhos a escolher até 2026. Ele pode tentar a sucessão presidencial, a depender da conjuntura do momento (se o governo Lula estiver bem, essa possibilidade será reduzida). A outra opção, hoje mais provável, é tentar a reeleição, e aí seu desempenho à frente do governo estadual, obviamente, será decisivo.

Com todos os percalços, o jogo político de Tarcísio de Freitas está apenas começando. Para qual rumo, ainda não se sabe.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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