O discreto companheiro Geraldo - Linha de Pensamento - Hold

O discreto companheiro Geraldo

Em 22 de novembro de 2022, no livro Diário da Transição (César, André; colaboração Alvaro Maimoni – 1ª ed. – Brasília, DF: Gráfica Movimento : Hold Assessoria Legislativa, 2023.), mais especificamente no capítulo “Um estranho no ninho”, escrevemos que “o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) tornou-se peça essencial para a vitória de Lula (PT) no processo sucessório. Essa mutação reflete a sua capacidade de realizar a leitura correta dos cenários. O ex-governador sem dúvida é um político de fino faro, mas será suficiente a partir de agora?”.

A análise continua afirmando que “Alckmin enfrenta dificuldades na transição ora em curso. Esse quadro se dá, em larga medida, por sua falta de experiência na convivência diária com lideranças de perfil mais à esquerda, especialmente os petistas. Uma coisa é atravessar uma (difícil) campanha eleitoral. Outra, mais complexa, é tratar da construção da gestão vencedora. Esse é o desafio que se coloca ao vice nesse momento.”

Asseveramos, ainda, que seria “difícil imaginar, hoje, que estendam um tapete vermelho para o ex-tucano, principalmente se Alckmin conseguir desempenhar com afinco o seu papel como vice-presidente da República.”

O capítulo do livro finaliza da seguinte forma: “Em resumo, Alckmin chega ao topo de seu momento na política em meio a dilemas e desafios nada desprezíveis. A seu favor, conta com a experiência de seus quatro mandatos à frente do governo paulista e, como afirmado acima, ter uma personalidade apaziguadora. Mas ele segue sendo um estranho no (seu novo) ninho.”

Passados quase nove meses, desde então, o agora “companheiro Geraldo” mostra que conseguiu se adaptar rapidamente à essa nova realidade política. De fato, os seus anos de política e seu perfil discreto e moderado, possibilitaram fazer frente aos desafios de comandar o país nas viagens de Lula (PT), ser vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Tudo ao mesmo tempo agora.

Muitos creditam ao “companheiro Geraldo” a estabilidade e paciência dos mercados econômico/financeiro com o atual governo nas horas mais difíceis e de indefinição na aprovação de matérias cruciais como o novo arcabouço fiscal e a MP da reestruturação do Poder Executivo, por exemplo.

De Geraldo, não se ouve um discurso polêmico. Até o momento, não se sabe de nenhum escândalo em sua pasta. Aliás, grande parcela da população sequer tem conhecimento de que o vice-presidente é, também, ministro de Estado. Lula, por sua vez, tem se aproximado cada vez mais de seu vice. Confia tanto em seu talento que designou Alckmin como um dos interlocutores nas negociações da reforma ministerial.

Até mesmo as iniciais resistências ao seu nome por parte da presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffimann, e do atual presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que dividiram com Alckmin a condução do governo de transição, parecem ter se esvaído ao longo do tempo.

É evidente que a posição de interlocutor privilegiado do titular do Planalto gera ruídos ao redor do vice-presidente. Em seu próprio partido, o PSB, há certo incômodo com o atual quadro, dado que Alckmin seria uma espécie de “novato” na legenda. Há integrantes da agremiação que sempre rememoram as origens tucanas de Geraldo.

De todo modo, as pressões, a princípio, não deverão abalar as hoje excelentes relações entre Lula e Alckmin. O fato é um só. O petista encontrou em seu vice um improvável companheiro - hoje mais confiável que muitos aliados de primeira hora.

Alvaro Maimoni

Consultor Jurídico

André Pereira César

Cientista Político

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