Como ficam os militares? - Linha de Pensamento - Hold

Como ficam os militares?

Para os militares, uma espécie de tempestade perfeita se forma no horizonte. A caserna está sendo pressionada em diferentes frentes. O momento não é bom para a tropa.

De um lado, a delação premiada do tenente coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), promete jogar luzes sobre fatos no mínimo embaraçosos para a tropa. De outro, as denúncias de corrupção envolvendo o general Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice na sucessão presidencial de 2022, podem gerar novos e graves constrangimentos.

No caso de Cid, os diversos episódios (saques em dinheiro, pagamentos de contas pessoais da família Bolsonaro, joias sauditas, falsificação de carteiras de vacinação, entre outros), mostram como foi tóxica sua relação com o ex-presidente e sua família. De militar com bom currículo, ele passou a pária. Agora, promete levar muitos pares para o cadafalso. Pelo menos é o que se especula.

Já as denúncias envolvendo Braga Netto remetem a 2018, quando ele foi o interventor na segurança pública do Rio de Janeiro, nomeado pelo então presidente Michel Temer (MDB). Os supostos desvios na compra de coletes balísticos com a dispensa de licitação, são mais que constrangedores - são um autêntico escândalo que mancha a imagem da corporação.

Também é necessário observar qual a real participação de militares nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Há muito a se esclarecer sobre aqueles eventos que ameaçaram derrubar o governo Lula (PT).

Em linhas gerais, os militares sempre foram bem avaliados pela opinião pública. Nos últimos tempos, porém, esse quadro mudou. Basta lembrar a desastrosa gestão do ex-general e agora deputado federal Eduardo Pazuello (PL/RJ) no ministério da Saúde durante a pandemia, exposta ao país na CPI da Covid. Na verdade, as Forças Armadas acreditaram que, sob Bolsonaro, poderiam voltar a ocupar um espaço relevante na cena política e ter um protagonismo perdido há décadas, com a falsa ideia de ser uma espécie de poder moderador. Deu-se o contrário - o ex-presidente politizou a caserna, buscando transformar um ente do Estado em seu “exército” particular, como ele gostava de falar com frequência.

Enfim, as tropas estão em uma encruzilhada. Para melhorar a imagem, será necessária uma correção de rota imediata. A mais urgente é a volta aos quartéis, deixando a política para os civis.

André Pereira César

Cientista Político

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