Trata-se de um clichê, mas é fato inegável - a disputa pela prefeitura da capital paulista tem grande impacto sobre a sucessão presidencial. No pleito do próximo ano esse quadro se repetirá, com a nacionalização do embate.
A rigor, serão dois candidatos com reais possibilidades de vitória, com os demais postulantes participando na condição de coadjuvantes. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) tentará a reeleição com o apoio do centro e da direita, representando a oposição no plano federal. Já o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) deverá ser o nome da esquerda, com o suporte do Planalto.
Para Nunes, o principal desafio, hoje, é tornar-se mais conhecido pela população. Candidato a vice nas eleições de 2020, ele assumiu em definitivo o comando da cidade após a morte de Bruno Covas (PSDB). Para tanto, ele se aproximou do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e a legenda pode indicar o candidato a vice. Cabe lembrar que o atual prefeito derrotou, numa espécie de prévias informais, o deputado Ricardo Salles (PL/SP), que pretendia ser o representante da direita no pleito. Até o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vê com bons olhos, hoje, a candidatura do emedebista.
Importante nesse processo serão as relações entre a prefeitura e o governo estadual. No momento, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) diverge de Nunes na questão do destino da Cracolândia. Trata-se de um problema política e socialmente delicado, que poderá impactar no voto do eleitor da capital.
No campo da esquerda, Boulos cobra do presidente Lula (PT) e do PT o acordo celebrado tempos atrás, que confirmaria a candidatura do deputado do PSOL. No entanto, um grupo de vereadores do PT sinaliza que poderá tentar lançar um nome do partido - os petistas temem que, vencedor, Boulos torne-se um potencial adversário do partido na sucessão presidencial. O conhecido hegemonismo do PT novamente colocado em prática.
Os demais postulantes têm poucas chances de decolar. Chama a atenção aqui a possível participação nas eleições dos deputados federais Tabata Amaral (PSB) e Kim Kataguiri (União Brasil). No caso da parlamentar, dado seu perfil, ela poderá apoiar Boulos em algum momento da campanha.
Pesquisa do Instituto Gerp realizada entre os dias 10 e 17 de julho mostra Boulos na liderança, com 26% das intenções de voto, seguido de Eduardo Bolsonaro (PL), com 18%, Ricardo Nunes com 6% e Tabata Amaral com 5%. É evidente que falta muito para o início da campanha, mas o atual prefeito precisa urgentemente ganhar tração.
Em tese, a capital paulista tem um eleitorado menos conservador que o interior do estado de São Paulo. Não por acaso, o PT em algum momento já elegeu três prefeitos - Luiza Erundina, Marta Suplicy e Fernando Haddad. Seria 2024 o retorno da esquerda ao Palácio do Anhangabaú?
André Pereira César
Cientista Político
