Taxa de juros novamente em cena - Economia - Hold

Taxa de juros novamente em cena

As rusgas entre setores do governo e o Banco Central em torno da taxa de juros voltaram com força nessa semana de decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). Evento promovido pelo BNDES, no Rio de Janeiro, mostrou um ambiente carregado para o presidente da instituição, Roberto Campos Neto.

Para registrar, a taxa básica de juros (Selic) está hoje em 13,75%, considerada muito alta para boa parte do governo (inclusive o presidente Lula) e também por diversos economistas. No evento da última segunda-feira, 20 de março, as insatisfações deram o tom. A depender da decisão dessa semana, o clima pode piorar ainda mais.

Chamou a atenção o posicionamento do vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB). Ecoando o ex-vice-presidente José Alencar, que foi um feroz crítico dos juros altos, ele pediu “bom senso” ao BC e falou na existência de “gordura” para cortar um pouco. Mais lenha na fogueira.

Outros três nomes presentes ao evento falaram duramente contra o BC. O presidente da Fiesp, Josué Alencar, filho do ex-vice, afirmou que atual Selic é “pornográfica”. Já o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, foi uma espécie de “maestro” que regeu as críticas ao longo do dia. Por fim, Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, declarou que as taxas praticadas no Brasil são “chocantes” e equivalem à “pena de morte”.

Em paralelo, cresce a expectativa em torno do novo arcabouço fiscal, a ser apresentado em breve pela equipe econômica. Setores do PT, capitaneados pela presidente da legenda, deputada Gleisi Hoffmann, apontam riscos na medida. O temor desses grupos é que o ajuste, ao reduzir ainda mais as já baixas expectativas de crescimento econômico, represente uma espécie de suicídio político para a atual administração. Espera-se mais fogo amigo contra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que num movimento de antecipação, se reuniu com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL) em busca de apoio.

Por sinal, o próprio Mercadante afirmou que será leal à equipe econômica, mas não deixará de expressar “aquilo que pensa”. O recado está dado.

Enfim, nuvens carregadas continuam a rondar a Esplanada e o Banco Central. O conflito pode se agudizar, justamente às vésperas do simbólico 100 dias de governo Lula, que ainda não tem muito a comemorar.

André Pereira César

Cientista Político

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