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Precisamos falar sobre economia

Os últimos dias registraram notícias positivas na seara econômica. Dólar e inflação em queda, PIB em alta, aprovação do projeto do novo arcabouço fiscal no Senado Federal. Sob essa ótica, o posicionamento do Banco Central destoa do ambiente geral.

É fato que mesmo os observadores mais otimistas não acreditavam no início da redução da taxa básica de juros (Selic) já na reunião encerrada na quarta-feira, 21 de junho. O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) confirmou as expectativas e manteve a taxa em 13,75%. A nota do BC, porém, foi mais dura que o esperado.

Ao afirmar que a atual conjuntura demanda “cautela e parcimônia”, o Banco Central emite sinais importantes. Apesar de haver retirado do documento a sinalização de que novos aumentos de juros podem acontecer, por exemplo, o Copom não deu indícios efetivos de um eventual corte da Selic nas reuniões futuras e continuou a indicar que a taxa básica pode seguir elevada por um "período prolongado". Ducha de água fria para muitos, governo e diversos setores da economia em especial.

Entre os governistas, a reação foi imediata, como era de se esperar. Em viagem à Europa, o presidente Lula (PT) afirmou que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, “joga contra a economia brasileira”. O que se pode esperar agora é uma nova escalada das críticas do Planalto ao comando da instituição. Campos Neto novamente ficará sob artilharia pesada.

Igualmente a equipe econômica demonstrou frustração com a decisão. Na avaliação de integrantes da equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o BC demonstrou um descolamento com a melhoria do cenário econômico. Entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) tendem a seguir na mesma linha.

Agosto, quando ocorrerá a próxima reunião do Copom, parece distante. Enquanto isso, o governo segue avançando em sua agenda no Congresso. Também na noite de quarta-feira, o plenário do Senado aprovou o parecer do relator, senador Omar Aziz (PSD/AM), ao projeto do novo arcabouço fiscal. Como a matéria sofreu alterações de mérito, será novamente encaminhada para a Câmara dos Deputados.

Aqui, as lideranças governistas terão um desafio adicional. Para dar celeridade ao processo de discussão e votação do projeto entre os deputados, será necessário evitar a abertura de novas frentes de negociações, que podem gerar desgaste e stress desnecessários e que poderão levar a análise final do projeto para o segundo semestre. Terão os negociadores condições de atingir esse objetivo? As respostas serão dadas em breve.

Enfim, a economia segue navegando em condições melhores do que o inicialmente previsto. Resta iniciar a redução da taxa básica de juros. Do contrário, a recuperação da economia pode se transformar em uma miragem - um sonho de uma noite de verão.

André Pereira César

Cientista Político

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