Política e economia - Economia - Hold

Política e economia

Enquanto as atenções de todos estavam voltadas para a Operação Venire da Polícia Federal, que apura a falsificação da carteira vacinal do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e para o embate em torno do projeto das Fake News, as questões da economia seguiram seu curso. Governo, Congresso Nacional e Banco Central tiveram dias atribulados, o que reforçou a percepção de que se está longe de um consenso sobre os rumos do país.

Primeiro, a questão envolvendo o governo do presidente Lula (PT) e o Banco Central. Ao manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75%, o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) tornou-se alvo de novas e pesadas críticas do titular do Planalto e de seus aliados. Durante sessão inaugural do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, Lula reclamou por não poder debater com a sociedade a questão dos juros no país, se limitando a dizer que não concorda com Roberto Campos Neto, presidente do BC. “O povo mais pobre sofre as consequências dos juros, mas o que interessa para eles é se a prestação vai caber no bolso. Eu não estou dizendo isso porque concordo com o Roberto Campos Neto, não. Todo mundo pode falar de tudo, só não pode falar de juros, todo mundo tem que ter cuidado”, declarou.

Até mesmo analistas de mercado mais ortodoxos consideraram a decisão do BC “muito dura”, bem como representantes do setor produtivo, que não escondem mais a insatisfação. A continuar nesse ritmo, não surpreenderá se Campos Neto ficar isolado a médio prazo. A conferir.

Cabe lembrar que o governo indicará, nos próximos dias, dois novos diretores do BC, o de Política Monetária e o de Fiscalização. Certamente ambos serão mais alinhados à política econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad - nesse caso, Lula colocará um pé dentro do Copom.

Quanto ao novo arcabouço fiscal, o cronograma estabelecido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), não será cumprido. O parecer do relator, deputado Cláudio Cajado (PP/BA), será apresentado somente em 10 de maio, data em que originalmente se projetava a votação da matéria em plenário. Agora, fala-se em se colocar em discussão a partir do dia 15, mas nada garante que isso ocorra.

Cajado e Haddad seguem negociando o texto a ser apresentado. Uma mudança importante será a manutenção de algo hoje em vigor e que a proposta enviada pelo governo retirava - a necessidade de se realizar contingenciamentos a cada dois meses quando as receitas do governo não corresponderem ao orçamento. A proposta governista estabelecia relatórios trimestrais, sem necessidade de contingenciamento. Recuo do Planalto e da equipe econômica.

Por fim, mais do mesmo no debate sobre a reforma tributária. Representantes do grupo de trabalho da Câmara passaram a semana em Paris, visitando a sede da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na prática, algo que não trará resultados reais para as discussões em curso. Os prazos anteriormente estipulados também não deverão ser cumpridos. Já se fala, inclusive, que a apresentação e análise do texto da reforma tributária ficará para o próximo semestre. Um mal sinal.

Muito além das CPIs, da crise vacinal de Bolsonaro e da polêmica das Fake News, o país aguarda as definições na economia. Nesse campo está inclusive o destino do governo Lula, para o bem ou para o mal.

André Pereira César

Cientista Político

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