O que pensa o eleitor - Economia - Hold

O que pensa o eleitor

Além de atualizar o quadro da disputa sucessória, a recém-publicada pesquisa Genial/Quaest mostra com clareza as principais preocupações do eleitorado. Os dados apresentados certamente terão peso na campanha que está prestes a se iniciar.

O levantamento, divulgado na última quinta-feira, ocorreu nos primeiros dias de abril e contém dados fundamentais para os candidatos ao Planalto. Salta aos olhos, em primeiro lugar, uma importante mudança em relação ao pleito de 2018 - o combate à corrupção perdeu força e, ao que tudo indica, será um mero coadjuvante em outubro próximo.

De fato, a economia voltou a ocupar o topo das preocupações dos brasileiros. O principal problema do país, na avaliação de 46% dos entrevistados, é a economia, seguida de longe pelo binômio saúde/pandemia, com 14% das citações, que está pouco à frente das questões sociais (12%). Outrora destaque, a corrupção é lembrada por meros 9% dos eleitores.

Destrinchando a questão, a crise econômica é o centro das preocupações de 17% dos brasileiros, praticamente empatada com a inflação (16%) e pouco à frente do desemprego (13%). Na verdade, um problema alimenta o outro e o eleitor deseja soluções para o quadro geral.

Interessante notar aqui que as questões sociais são, em larga medida, consequência direta da situação econômica. Assim, desagregando os números, temos fome/miséria com 9% das citações, desigualdade com 2% e pobreza com 1%. A rigor, ao se somar economia com questões sociais chega-se a um total de 58% dos brasileiros, um número expressivo. Os candidatos têm aí a senha para a campanha.

Por fim, o brasileiro tem uma percepção negativa sobre o quadro econômico em geral. A inflação é uma avaliação unânime - nada menos que 98% apontam aumento nos preços nos últimos tempos. Já 59% sentem mais dificuldades para pagar as contas nos últimos três meses. Um quadro sombrio e sem previsão de melhora no curto prazo.

Os números acendem um sinal amarelo para o presidente Jair Bolsonaro (PL) em sua tentativa de reeleição. O bolso, o órgão mais sensível do corpo humano, terá grande peso no pleito e, a princípio, o titular do Planalto tende a ser responsabilizado pela situação atual. Já seus adversários precisam apresentar propostas concretas - o eleitor não deseja novos “terrenos na lua”. O mapa está desenhado.

PS: a nova pesquisa DataFolha sobre a sucessão paulista deixa claro o peso do “fator França” na disputa. De acordo com o levantamento, o ex-governador teria hoje 20% dos votos, ficando atrás apenas do petista Fernando Haddad, com 29%. Mais ainda, Márcio França (PSB) deixa para trás o candidato de Bolsonaro, Tarcísio Freitas (Republicanos), com 10%, e o governador Rodrigo Garcia (PSDB), aliado do tucano João Dória, com meros 6%. Os números reforçam a possibilidade de França, por ora um candidato competitivo, não abrir mão da disputa para apoiar Haddad.

André Pereira César
Cientista Político

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