Lula em Buenos Aires - Economia - Hold

Lula em Buenos Aires

A visita do presidente Lula (PT) a Buenos Aires, a primeira internacional de seu novo mandato, é carregada de simbolismo, mas não só. Há também um lado pragmático na viagem. É evidente o desejo do titular do Planalto em reposicionar o Brasil no cenário global. Na Argentina, dá-se o pontapé inicial.

Alguns esclarecimentos. Lula desistiu de levar seu indicado à presidência do BNDES, Aloizio Mercadante, na comitiva. O petista quer evitar associar diretamente o ex-ministro como um representante do BNDES antes de sua formalização no comando do banco público. A cautela deu o tom da decisão presidencial. Interessante notar que Lula anunciou que o BNDES financiará projetos de empresas brasileiras no exterior, como um gasoduto na Argentina.

Uma discussão importante, que está mobilizando a imprensa e os agentes econômicos, diz respeito à anunciada proposta de criação de uma moeda comum entre os dois países. O tema em si não é propriamente novo - já no final da década de oitenta do século passado ocorreram debates entre os então presidentes Sarney e Alfonsin. Até mais recentemente, em 2019, Paulo Guedes abordou a questão, que jamais avançou. Agora, o assunto retornou sob nova roupagem.

Não se trata de moeda única, como muitos equivocadamente têm falado, mas sim um instrumento virtual que seria utilizado em determinadas transações entre os dois países. Nada de um “euro tropical”, portanto. A comunicação do governo, porém, está falhando.

No âmbito puramente político, o argentino Alberto Fernandez, com a popularidade em baixa, tenta recuperar parte de seu prestígio aparecendo ao lado de Lula. As chances de êxito, porém, são nulas. A grave crise econômica não cederá com a mera presença do brasileiro no país. O bolso fala mais alto.

Ainda no plano político, a reunião do petista com o venezuelano Nicolás Maduro, inicialmente não prevista, mas que chegou a ser cogitada, foi cancelada. Por questões legais, Maduro não irá à Argentina. Melhor assim, pois o encontro poderia gerar ruídos desnecessários nesse momento. A única justificativa seria a discussão da questão Yanomami, uma terrível crise humanitária que faz parte da agenda dos dois países.

Enfim, o Brasil volta ao circuito. No próximo dia 30, Lula receberá o chanceler alemão Olaf Scholz, o mesmo que foi solenemente ignorado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em reunião do G20. Em tempos de crise global, é fundamental para o país se reposicionar.

André Pereira César

Cientista Político

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