Depois da China e dos Emirados Árabes Unidos - Economia - Hold

Depois da China e dos Emirados Árabes Unidos

Foram importantes os sinais emitidos pelo presidente Lula (PT) durante o prériplo pela China e Emirados Árabes Unidos. Em diferentes momentos, o brasileiro deixou claros os rumos da política externa a partir de agora.

Algumas observações. Apesar da assinatura de diversos acordos com investimentos de bilhões de dólares e do definitivo retorno do Brasil ao cenário geopolítico mundial, a viagem aos dois países acabou marcada muito mais pelas declarações de Lula.

O discurso oficial do governo de que o Brasil ficará equilibrado entre os Estados Unidos da América e a China, ficou evidente o viés favorável aos asiáticos e ao BRICS. Exemplo disso foi a sugestão de se utilizar outras moedas nas trocas comerciais, em substituição ao dólar, ideia essa também abraçada pela França, de Emmanuel Macron. A guerra na Ucrânia, por sua vez, mostra a posição brasileira - Lula fala em paz, mas de maneira condicionada, com Zelensky aceitando “ceder em alguns pontos” e culpando a OTAN e os norte-americanos pela continuidade do conflito. Para muitos, um erro na abordagem da geopolítica.

Houve ainda os problemas de comunicação costumeiros. O titular do Planalto tirou foto, que chegou a ser publicada nas redes sociais e depois apagada, usando óculos da Huawei, a polêmica empresa chinesa banida pelo governo norte-americano sob a acusação (ainda não comprovada) de coleta de dados de seus usuários para serem repassados ao governo chinês. No entanto, importante ressaltar que foram o FaceBook, a Apple e a Cambridge Analytica que repassaram (fato esse devidamente comprovado) informações de milhões de usuários ao governo norte-americano. Apesar disso, um ato falho na viagem de Lula, que apenas gera barulho com o presidente Joe Biden. No mínimo desnecessário.

Agora, ao governo brasileiro resta caminhar nas questões locais. Em primeiro lugar, avançar, nas palavras da ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB/MS), nas balas de prata e de bronze da atual gestão, a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal. Há muita expectativa em torno das matérias, mas também muita espuma. Se faz necessário um debate sério e objetivo, o que não aconteceu até agora. Falta liderança, de fato.

Esse debate e essa liderança dependem, em larga medida, da base aliada no Congresso Nacional. A rigor, hoje o governo não tem condições de aprovar propostas mais delicadas - mesmo medidas provisórias correm riscos nas duas Casas Legislativas. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL) torna-se, assim, figura central para os destinos do Planalto, posto ainda não terem chegado ao pleno acordo, o que ajuda a explicar a lentidão e essa sensação de que “as coisas estão soltas”.

Por fim, o governo precisa ajustar o discurso e a ação da chamada “frente ampla”. Há muita dissonância e falta de entendimento entre os diversos grupos que integram a atual administração. Do PSOL ao União Brasil, a Lula é necessário manter pulso firme. Do contrário, o Planalto acumulará reveses.

É de nosso costume se falar que, no Brasil, o ano começa somente após o Carnaval. No caso do governo Lula, o ano parece que se iniciará apenas após a visita a Xi Jinping. Assim a opinião espera.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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