A economia na encruzilhada - Economia - Hold

A economia na encruzilhada

O otimismo do governo e de setores do mercado com relação à recuperação da economia não encontra eco nos fatos. O mundo real segue apontando as dificuldades que o país enfrenta para reencontrar algum alento. A situação não é confortável.

Para começar, os números do desemprego são contundentes. De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego no primeiro trimestre subiu para 14,7%, ante 13,9% no final de 2020, maior índice da série histórica. Hoje, são 14,8 milhões de brasileiros oficialmente sem ocupação. Esses números não incluem os informais e o chamado “desalento”, aqueles que desistiram de procurar emprego. A realidade, portanto, é muito pior.

Entre junho e setembro, a seca deverá ser forte em vários estados - Minas Gerais, Paraná e São Paulo entre eles -, afetando diretamente a produção agrícola e os reservatórios para geração de energia elétrica. A situação é considerada “severa” por especialistas e também tem sido acompanhada pelos governos estaduais e federal. O impacto desse quadro não será desprezível.

O IGP-M acelerou a alta para 4,10% em maio, ante avanço de 1,51% em abril. A alta veio acima da média esperada, de 4%, mas ainda dentro do intervalo das projeções (+3,06% a +4,65%). O índice sobe 14,39% no acumulado do ano e 37,04% em 12 meses, maior taxa desde o Plano Real. Números preocupantes vindos da chamada “inflação do aluguel”, com elevado peso no dia a dia da já combalida classe média brasileira.

A agência de classificação de risco Fitch reafirmou o rating do Brasil em BB-, com uma perspectiva negativa para a nota. Segundo a instituição, a estrutura fiscal rígida, o baixo potencial de crescimento econômico e o cenário político justificam a nota. Cabe lembrar aqui que as agências de risco haviam sumido do noticiário político e econômico, sendo essa a primeira vez que uma delas se pronuncia no governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

Some-se a essa realidade as dificuldades políticas enfrentadas pelo Planalto. A agenda de reformas anda a passos de cágado e a CPI da Covid pode gerar uma crise com potencial para obstruir os trabalhos do Congresso Nacional. Mais ainda, o cronograma de vacinação da população é lento, impondo obstáculos extras para a indústria, o comércio e os serviços.

Outras frentes ajudam na piora do quadro econômico. Em recente decisão, o ministro do Tribunal de Contas da União, Walton Alencar Rodrigues, relator das contas de 2020 da Presidência da República, exigiu que o Palácio do Planalto e o Ministério da Economia entreguem, num prazo “improrrogável” de cinco dias úteis, cópias dos documentos ainda ocultos do chamado “orçamento secreto”, que liberou cerca de R$ 3 bilhões em emendas a parlamentares da base governista pouco antes da eleição dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

As lideranças governistas afirmam que a economia deve “bombar”, pavimentando o caminho para a reeleição de Bolsonaro. Sem uma mudança no quadro geral e sem a necessárias reformas estruturais, essa avaliação poderá ser mera ficção.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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