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Diário da transição: um primeiro anúncio

Sexta-feira, 9 de dezembro. Após a eliminação da seleção brasileira pela Croácia nas quartas-de-final da Copa do Mundo de futebol, os olhos novamente se voltam para Brasília, com o anúncio dos primeiros nomes do ministério do futuro governo Lula (PT). O petista, por sinal viu-se obrigado a antecipar em alguns dias a divulgação, em função da pressão que recebe de diferentes setores.

A rigor, a definição dos primeiros integrantes da próxima gestão não trouxe surpresas. Na verdade, o presidente eleito sinaliza que terá controle direto sobre as pastas politicamente mais delicadas. De saída, ele se cercou de pessoas da sua mais estrita confiança.

No recriado ministério da Fazenda, a presença do ex-prefeito Fernando Haddad é mais que simbólica. Com ele, o PT retoma o controle de uma área extremamente sensível da vida nacional, fincando sua bandeira. Mais ainda, Lula tenta mostrar que as pressões dos mercados sobre ele têm um limite - em tese, ele será o condutor da economia nos próximos quatro anos. Resta saber quem comandará o ministério do Planejamento.

Já José Múcio na Defesa talvez tenha sido a grande sacada do petista até o momento na montagem do futuro governo. Mesmo sofrendo resistência de setores do PT contrários à sua indicação, a experiência e boa interlocução do ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) com os militares poderá gerar um efeito de contenção dos ânimos na caserna.

Aqui vai um adendo. Lula já teria definido com Múcio os nomes dos novos comandantes das Forças Armadas. No Exército deverá assumir o general Julio Cesar de Arruda, atual chefe do Departamento de Engenharia e Construção, mais antigo da tropa. Na Marinha, o almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen, atual comandante de Operações Navais da Marinha. Na Aeronáutica, o tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno, atual chefe do estado-maior da Aeronáutica. O Comandante do Estado-maior das Forças Armadas será o almirante de Esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire, atual chefe do estado-maior da Marinha. Jogo rápido da parte do futuro ministro.

O governador baiano Rui Costa na Casa Civil, o “cérebro” do governo, aponta o PT avançando também na seara política. Experiente e bom articulador, ele seria o nome ideal para o posto, dado o atual momento e os objetivos iniciais de Lula.

Para a Justiça, o ex-governador do Maranhão e senador eleito Flávio Dino (PSB) será peça importante na Esplanada. Próximo a Lula, juiz federal, seu nome aparecia desde sempre nas bolsas de apostas. Ele possivelmente se excedeu em entrevistas logo após a vitória do petista, mas depois adotou um estilo mais discreto. Trata-se de um bom negociador.

Por fim, solução caseira no Itamaraty, com a presença do ex-ministro (governo Dilma) Mauro Vieira, atualmente embaixador na Croácia. Também próximo a Lula, com quem com frequência, mostra uma real mudança de chave na política externa brasileira.

Agora, resta o trabalho de acomodação dos demais aliados que compõem a chamada frente ampla. Ministros, cargos de segundo e terceiro escalões e estatais entram na disputa interna. Muita água ainda vai rolar até a posse.

André Pereira César
Cientista Político

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