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Diário da transição: segundo escalão em disputa

Segunda-feira, 21 de novembro. No processo de transição, há muita especulação, disse-me-disse e contrainformação sobre os ministros do governo eleito, bem como os presidentes de estatais. Para além disso, é importante dar uma olhada sobre a disputa pelos postos do chamado segundo escalão, objeto da cobiça dos partidos que compõem a frente ampla.

A princípio menos vistosos, esses cargos são estratégicos, pois dão acesso a recursos e poder político para aqueles que os comandam. Em um governo de coalizão, o segundo escalão torna-se um importante ativo para o presidente de plantão, que o utiliza para receber apoio a sua agenda. Lula (PT) sabe disso e deverá se debruçar sobre a questão tão logo retorne a Brasília.

A lista de cargos é extensa. Por exemplo, diretorias de bancos oficiais, dos Correios, Dnit, Funasa, Incra, Ibama, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Receita Federal entram no pacote, assim como as secretarias que integram a estrutura dos ministérios.

Cabe lembrar aqui que, ao longo dos últimos quatro anos, o governo de Jair Bolsonaro (PL) esvaziou muitas dessas instituições, e ao presidente eleito caberá realizar um trabalho de reforço delas. Não será tarefa fácil.

Nomes nos partidos não faltam. Historicamente, os cargos “temáticos” são feudos de legendas - por exemplo, o PCdoB tem nos esportes sua “vocação”, e o PSD de Gilberto Kassab a área das cidades. Já o Dnit sempre esteve próximo do PL, legenda que hoje, em tese, não apoia Lula. Haverá espaço para composição nessa área?

Dado o tamanho da coalizão que apoia Lula, com mais de dez partidos, é praticamente inevitável que aliados entrem em conflito por espaço. Já na transição alguns ruídos começam a ser captados e tendem a aumentar nas próximas semanas.

No limite, Lula e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB) precisarão negar, em determinados casos, as demandas e solicitações de aliados. Resta saber o quanto essa distribuição de cargos afetará o dia a dia da futura administração e se será capaz de produzir, a curto e médio prazos, poderosos inimigos. Há aqui mais um foco de risco para o presidente eleito.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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