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Diário da transição: política e economia

Sexta-feira, 11 de novembro. Em sua primeira visita ao Centro Cultural Banco do Brasil, o presidente eleito Lula (PT) teve um dia de altos (na política) e baixos (na economia). Em um ambiente de elevadas expectativas, fica claro que qualquer declaração do futuro mandatário pode ser objeto de especulação.

No âmbito da política propriamente dita, foram anunciados novos nomes para o grupo de trabalho da transição, em diferentes setores. Aqui, aplica-se novamente um padrão já conhecido - um mix de especialistas nas suas respectivas áreas, não importando o posicionamento político-ideológico do indicado. Assim, por exemplo, temos um executivo altamente respeitado (Jackson Schneider, ex-Anfavea e atual CEO da Embraer) ao lado do ex-governador gaúcho Germano Rigotto (MDB) no grupo de Indústria, Comércio e Serviços.

Indo além, expoentes em setores críticos, como Direitos Humanos, que contarão com a participação do advogado Silvio Almeida e do economista Luiz Alberto Melchert, entre outros. Em tempos de Copa do Mundo, uma verdadeira seleção.

Ainda no campo político, Lula marcou um ponto ao reunir antigos e novos aliados na quinta-feira. Entre esses últimos, o deputado ex-bolsonarista Alexandre Frota (PROS/SP) e o deputado federal Pastor Sargento Isidório (Avante/BA), com sua indefectível Bíblia em mãos.

Já na seara econômica, o ambiente é de expectativa, tensão e muita especulação. Em linhas gerais, o discurso do petista agradou aos aliados ideologicamente mais alinhados ao futuro presidente, mas não foi bem recebido pelo mercado, que enxergou problemas no conteúdo da fala - Lula prioriza o social, o que não deixa de ser correto em tempos de miséria da população, mas sinaliza que o rompimento de marcos econômicos importantes, como o teto de gastos, para financiamento dessa promessa de campanha, venha a ser permanente. Além disso, ele criticou a indistinta antecipação de dividendos da Petrobras sem que se faça reservas para reinvestimentos.

Bolsa (queda de 3%) e dólar (alta de mais de 4%, fechando em R$ 5,40) reagiram de imediato. Para muitos, o petista teria “esnobado” o mercado, alimentando um ambiente de incertezas. Mais ainda, a cobrança para que anuncie o quanto antes o nome do ministro da Fazenda deverá ganhar tração a partir de agora. A chamada “lua de mel”, que já seria curta, corre o risco de nem começar.

Aqui cabe uma ressalva. Outros fatores contribuíram para o resultado registrado no mercado ontem - repique da inflação no Brasil após alguns meses de queda, em especial, aliado a fatores internacionais como a inflação e eleições nos EUA, por exemplo. De todo modo, o recado está dado - para evitar oscilações que podem ter forte impacto inclusive na formação de seu governo, Lula precisará calibrar seu discurso.

Em suma, fica evidenciado que momentos de turbulência devem ser esperados ao longo das próximas semanas. O processo de transição é assim - uma estrada sinuosa e difícil de se transitar, com perigos à espreita.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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