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Diário da transição: o PP no governo Lula

Domingo, 4, e segunda-feira, 5 de dezembro. Essencial para a governabilidade durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), o PP estuda agora os rumos a tomar na administração de Lula (PT), que assumirá em poucas semanas. O partido se pauta no pragmatismo, mas conseguirá efetivamente se alinhar ao petista?

De um lado, há o movimento - até aqui bem sucedido - para a recondução de Arthur Lira (PP/AL) à presidência da Câmara dos Deputados. O anunciado apoio de PT e aliados praticamente selou a vitória do atual comandante da Casa e, mais ainda, evitou que Lula entrasse em uma disputa na qual teria muito a perder. O erro de 2016, quando a então presidente Dilma Rousseff (PT) enfrentou o peemedebista Eduardo Cunha não se repetiu. Aqui, jogo jogado.

Pelos cálculos do grupo de Lira, ao menos 25 dos 47 deputados eleitos pelo partido apoiarão Lula a partir do próximo ano. Um contingente nada desprezível, levando-se em conta a fragmentação da Câmara.

Segue em campo, no entanto, a figura do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP/PI), hoje fortemente ligado a Bolsonaro. Presidente licenciado do partido, ele tem aliados alinhados a Lula - de quem inclusive já foi apoiador -, mas se mantém fiel ao atual mandatário e defende que a legenda fique na oposição a partir da posse do novo governo, em janeiro. “Vou ficar quatro anos na oposição”, afirmou. A de se conferir qual a real influência de Ciro Nogueira junto a seus correligionários.

Por falar em pragmatismo, o PP tem divisões regionais que norteiam as decisões partidárias. O Norte e o Nordeste tendem a se aproximar de Lula, enquanto o Centro-Sul caminha para a oposição ao futuro governo. A ex-ministra da Agricultura Teresa Cristina (PP/MS) e o senador Luís Carlos Heinze (PP/RS) são expoentes dessa última corrente. Mesmo assim, há linhas de negociação em curso. Nada fechado ou absolutamente radical.

Importante lembrar que, nos dois primeiros mandatos de Lula, o PP integrou o governo federal. E o apoio de Paulo Maluf a Fernando Haddad na campanha pela prefeitura de São Paulo em 2012 até hoje está na memória de todos - para o bem e para o mal.

Assim, os grupos em disputa trabalharão para ser hegemônicos dentro da legenda. Há um limite para esse jogo - a unidade do partido, que sempre soube atuar dentro dos limites das regras da política.

André Pereira César
Cientista Político

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